Rússia prepara maior ofensiva desde início da guerra, afirma Ucrânia

17 jul 2023
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A Rússia prepara o que pode ser o maior ataque contra a Ucrânia desde as primeiras semanas da invasão promovida por Vladimir Putin, no fim de fevereiro de 2022. De acordo com Kiev, mais de 100 mil soldados estão concentrados na região noroeste de Donetsk, no leste do país.

A declaração foi dada a repórteres pelo porta-voz do Grupo Oriental das Forças Armadas da Ucrânia, Serhii Tcherevati. Ele afirmou que há cerca de 900 tanques, 555 sistemas de artilharia e 370 lançadores múltiplos de foguetes na direção de Liman e de Kupiansk, perto da região de Kharkiv.

Segundo a ministra-adjunta da Defesa, Hanna Maliar, já há combates intensos na região há dois dias. "O inimigo está ativamente na ofensiva. Estamos defendendo. Combates pesados estão em curso, e as posições de ambos os lados mudam dramaticamente várias vezes ao dia", afirmou no Telegram.

O alerta foi dado em um dia particularmente agitado no conflito, com o ataque à ponte que liga a Crimeia ocupada à Rússia e a saída de Putin do acordo que permite a exportação de grãos ucranianos pelo mar Negro sem eventual oposição de bloqueio militar.

Segundo a Folha de S.Paulo ouviu de analistas militares em Moscou, a provável ação visa a romper as defesas de Kiev no momento em que a contraofensiva das forças de Volodimir Zelenski mostra sinais de dificuldades, com avanços apenas incrementais mais a sudeste de Donetsk e em Zaporíjia, no sul do país.

A invasão em 2022 mobilizou cerca de 200 mil militares e se provou insuficiente, por erros logísticos e táticos, para capturar Kiev. Mas a ação ocorreu em três grandes frentes, o que gerou críticas acerca do número de soldados nos esforços principais. Agora, ao que parece, a ofensiva será concentrada.

 

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Se o cenário se confirmar, Kiev pode ter problemas. Sua contraofensiva, iniciada em 4 de junho, não rompeu as defesas russas, apesar de haver batalhas com grande atrito e perdas de ambos os lados —só que há menos soldados ucranianos, talvez 60 mil na ação. Autoridades da Otan, a aliança militar ocidental que armou e treinou as forças de Zelenski, têm baixado suas expectativas acerca de resultados rápidos.

Mas ninguém contava, ao menos publicamente, com uma nova ofensiva russa. Ao contrário, o mantra de analistas ocidentais é o da exaustão das forças de Putin, que ainda enfrentou um motim do Grupo Wagner em junho, perdendo acesso a esse recurso —muito empregado nos meses mais estáticos da guerra.

Se a ofensiva ocorrer de fato, e na direção aparente, pode cortar pela metade os 45% de Donetsk que ainda estão nas mãos da Ucrânia, colocando linhas de suprimento para a capital provisória de Kramatorsk sob risco. É um cenário novo no conflito, com consequências imprevisíveis.

Das quatro regiões anexadas ilegalmente por Putin em setembro passado, Donetsk é aquela em que ele tem menos controle territorial. Domina quase toda a vizinha Lugansk e boa parte de Zaporíjia e Kherson, que fazem uma ponte terrestre entre Rússia e Crimeia no sul ucraniano, às margens do mar de Azov.

 

 

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O panorama havia sido desenhado na semana passada por George Friedman, da consultoria americana Geopolitical Futures. A seus clientes ele afirmou que havia a chance de uma ofensiva resolver a situação em Donetsk em favor de Moscou, o que poderia levar a um congelamento das fronteiras presumidas.

Friedman argumenta que o presidente americano, Joe Biden, não gostaria de entrar na campanha eleitoral de 2024 com uma situação indefinida na Ucrânia, e há fadiga entre os aliados, como disse na semana passada o presidente tcheco Petr Pavel na cúpula da Otan. Mas ele contava mais com ganhos de Kiev do que com uma ofensiva russa, que colocará em xeque o esforço em preparar Zelenski para contra-atacar.

Porém, se for em frente, Putin arrisca o coração de suas forças, e uma derrota seria desastrosa, talvez obrigando uma nova mobilização. Estima-se que, dos cerca de 1 milhão de militares russos, de 300 mil a 400 mil estejam em território ocupado na Ucrânia —assim, uma força de 100 mil é significativa.

No auge da ocupação soviética do Afeganistão, que durou de 1979 a 1989, havia 120 mil soldados de Moscou no país. Eles acabaram saindo humilhados pelos guerrilheiros islâmicos, uma derrota geracional que acompanhou o ocaso do império comunista —dissolvido logo depois, em 1991.


FONTE: Estado de Minas


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