Massacre em creche de Blumenau força autoridades a tomar providências

06 abr 2023
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"Agradeço a Deus por todos os momentos que vivi com o meu filho. A partir de hoje, a memória dele vai ser honrada no meu coração." Com essas palavras, Bruno Bride expressou a dor de perder o filho Bernardo Machado em um ato de violência que chocou o Brasil. "Vou honrar a memória do meu filho todos os dias, fazer valer a pena todos os momentos. Peço que Deus conforte meu coração e de todas as famílias", acrescentou Bride, nas proximidades da creche Cantinho Bom Pastor, localizada na Rua dos Caçadores, bairro Velha.

Na manhã desta quarta-feira (5/4), a cidade catarinense de Blumenau, situada no Vale do Itajaí, foi cenário de uma tragédia. Um homem de 25 anos invadiu o estabelecimento educacional e, armado de uma machadinha, começou a desferir golpes nas crianças. Morreram no ataque Bernardo Cunha Machado, 5 anos; Bernardo Pabest da Cunha, 4 anos; Larissa Maia Toldo, 7 anos; e Enzo Marchesin Barbosa, 4 anos.

Outras cinco crianças ficaram feridas. Quatro foram atendidas no Hospital Santo Antônio. Entre elas, estão duas meninas de 5 anos, um menino de 3 anos, e um de 5 anos. Segundo a equipe médica, elas passaram por cirurgia e estão com o quadro de saúde estável. "Elas foram atendidas pela equipe de urgência e emergência e as famílias estão recebendo apoio da equipe multiprofissional da instituição", informou o hospital, em nota. Uma quinta criança, com ferimentos leves, foi levada pela mãe para o Hospital Santa Isabel, segundo informações divulgadas pela prefeitura de Blumenau.

A tragédia poderia ser ainda pior não fosse a iniciativa de uma funcionária da creche Cantinho Bom Pastor. Professora do maternal, Simone Aparecida Camargo estava se preparando para conduzir os pequenos para o banho de sol no pátio da creche. Mas, ao ser alertada sobre o ataque, agiu rápido. "Eu tranquei os bebês em uma sala e me tranquei com eles. Na hora que saí, ele (o criminoso) já não estava mais", relatou.

Simone reconstitui os momentos de desespero. "Minha parceira de sala chegou correndo dizendo 'fecha a porta, fecha a janela porque um cara assaltou o posto", contou. "Pensamos que era um assalto porque ele invadiu a escola, só que fechei os bebês no banheiro, depois vieram na porta dizendo que ele 'veio matando'", lembrou.

Até o fechamento desta edição, não havia informações sobre um eventual vínculo entre o autor e o local onde ocorreu o ataque. Segundo o chefe da Polícia Civil de SC, delegado Ulisses Gabriel, o suspeito se entregou logo depois da ação.

A creche Cantinho Bom Pastor é uma instituição privada, sem convênio com a prefeitura, e atende cerca de 220 crianças. Demais escolas públicas e particulares na cidade tiveram as aulas interrompidas por tempo indeterminado. As festividades da Páscoa no município também foram canceladas.

O delegado Ulisses Gabriel afirmou que é preciso ampliar as ações de caráter preventivo para evitar novos ataques como o de hoje. Ulisses disse também que a polícia "quer identificar se mais alguém participou, como ele tramou esse plano, onde ele obteve informações".

"Falhamos"

Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, decretou luto oficial de três dias no estado. Ele usou as redes sociais para lamentar o episódio. "É com enorme tristeza que recebo a lamentável notícia de que a creche particular Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, foi invadida por um assassino que atacou crianças e funcionários. Infelizmente quatro não resistiram e morreram, além de três feridos. Determinei imediatamente a ação das nossas forças de segurança, que já estão no local. Também decretei luto oficial de três dias. O assassino já está preso. Deixo aqui a minha total solidariedade. Que Deus conforte o coração de todas as famílias neste momento de profunda dor", escreveu.

A prefeitura da cidade vai instalar um comitê de crise para acompanhar o caso e delimitar as ações. Segundo o prefeito Mário Hildebrandt, o foco do governo será o atendimento e apoio às famílias das vítimas.

A tragédia em Blumenau também abalou autoridades em Brasília. O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, em participação em um evento da pasta, lamentou o episódio. Falando de improviso, disse que "não estava feliz" e fez um desabafo. "Um país - um mundo, né? - que mata crianças é tudo menos democracia. É tudo menos um mundo decente", afirmou.

"Senhoras e senhores, nós estamos falhando miseravelmente com as crianças e com os adolescentes. Nós estamos falhando miseravelmente com as pessoas que mais precisam de nós neste país, e nós temos que admitir isso pra poder dar um passo à frente", completou o ministro.

Ariel de Castro Alves, Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, defende que o uso inadequado da internet fomenta cenários como esse. "Algumas páginas e chats se tornaram espaços de fomento ao ódio, violência, discriminação e intolerância", afirma. O secretário também lamentou as mortes e disse que "temos o desafio de construir um país sem violência ou qualquer tipo de violação".

Na noite desta quarta, moradores de Blumenau foram à creche Cantinho Bom Pastor para render homenagem às vítimas. Segundo informações do portal NSC Total, deixaram velas e flores diante do educandário no bairro Velha enquanto rezam.

Em determinado momento, populares rezaram pelas vítimas e famílias, de mãos dadas em uma roda. Mariana Ludwig, coordenadora pedagógica da Escola Alberto Stein, participou da homenagem. Uma das crianças assassinadas na escola fazia o contraturno escolar no CEI.

"Eles são nossos pilares, nosso futuro. A gente precisa protegê-los da melhor forma possível", pediu.

Delegado vê caso isolado; mídia global destaca maior frequência

O delegado Ulisses Gabriel afirmou que o massacre da Creche Cantinho Bom Pastor se trata de um caso isolado. Ele negou que o indivíduo fizesse parte de um grupo coordenado de ataques a unidades educacionais. Segundo a polícia, o suspeito tem passagens por porte de droga e tentativa de homicídio contra o padrasto. Ele será indiciado por quatro homicídios triplamente qualificados e três tentativas de homicídio triplamente qualificadas. "A situação é de caso isolado. Não tem relação com outras práticas criminosas e não é um fato coordenado, seja por jogo, seja por rede social, seja por meio de conversas e negociações entre criminosos", disse Gabriel.

O comandante-geral da Polícia Militar, Aurélio José Pelozato da Rosa, garantiu que a corporação iniciou ações de segurança nas unidades de ensino do estado. Uma das iniciativas é colocar o Programa de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) no horário de entrada dos alunos, para que os policiais façam a entrada na unidade com os estudantes.

Outra ação é o retorno de policiais da reserva para patrulhamento. Além disso, a prefeitura inicia nesta quinta (6/4) reuniões com diretores de escolas públicas e privadas para aumentar a segurança no ambiente educacional. "Queremos somar forças nas estratégias de segurança e resposta para essas e outras situações que possam acontecer em ambiente escolar", declarou. As aulas estão suspensas na rede pública e particular blumenauense até segunda-feira.

O ataque foi destaque nos principais jornais do mundo. As reportagens ressaltam que esse tipo de crime em escolas começa a ser comum no país.

A agência americana Associated Press informa que o ataque chocou o Brasil e colocou pressão nas autoridades para conter a onda crescente de violências nas escolas do país.

O inglês The Guardian indica que "ataques a escolas no Brasil têm acontecido com maior frequência nos últimos anos" e relembra o caso em São Paulo, na semana passada, com a morte de uma professora de 71 anos.

O norte-americano Washington Post aponta que, de 2000 até 2022 o Brasil registrou 16 ataques violentos contra escolas, sendo quatro deles apenas no segundo semestre do ano passado.

O italiano Corriere Della Sera destaca que o ataque aconteceu menos de 10 dias após um adolescente esfaquear a professora em São Paulo.

A Rádio França Internacional destacou a fala do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Ele disse que "um país que mata crianças é tudo menos democracia".

(Colaboraram Henrique Lessa e Raphael Pati - estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza)


FONTE: Estado de Minas


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