Pacifista enterra filho assassinado pelo Hamas pedindo fim dos bombardeios contra Gaza

14 out 2023
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No kibutz Naan, perto de Tel Aviv, Yaakov Godo para em frente ao caixão de seu filho Tom, morto na ofensiva dos combatentes palestinos do Hamas no sul de Israel.

Na camisa deste homem de 72 anos há um famoso slogan de paz em hebraico e árabe: "Olhando a ocupação nos olhos".

"Sou um ativista dos direitos humanos", diz este aposentado que ajuda os pacientes palestinos a terem atendimento médico. "Luto contra a ocupação", acrescenta.

"Encarrego-me da passagem de palestinos para a Jordânia, ou de Gaza para Israel, e não vou parar. Vou continuar, apoiarei os palestinos", insiste, enquanto o corpo de seu filho é sepultado.

Um soldado israelense, destacado nos cemitérios, lembra aos 200 enlutados o que devem fazer em caso de um ataque com foguetes, um risco crescente nesta última semana.

"Vocês têm 90 segundos para correr e se jogar no chão", gritou.

Inclusive, antes mesmo do fim do funeral, a sirene começa a soar, obrigando a multidão a buscar abrigo com as mãos na cabeça.

Depois, um som agudo evidencia a interceptação dos projéteis, e os enlutados suspiram aliviados.

- 'Assustador' -

Nesta comunidade agrícola ao sul de Tel Aviv, os ativistas pela paz enterram seu camarada com os sons e a fúria da guerra ao fundo.

Ao longo da cerimônia, aviões de combate israelenses cruzam o céu e o ruído de seus motores abafa os cânticos e orações.

"O que acontece em Gaza é assustador", afirma Godo.

"Estou pedindo a nossos pilotos que lancem ao mar, e não sobre as pessoas, as bombas que lhes pedem para lançar sobre o povo de Gaza", declarou. "Já chega!"

A família Godo é parte de um grupo ativista de esquerda, secular e pró-paz, oposto ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

São minoria em Israel, mas, historicamente, estão bem representados nos kibutzim.

Tom Godo, de 52 anos, engenheiro e amante do teatro, decidiu se mudar este ano para Kissufim, no deserto de Negev, perto da Faixa de Gaza.

Pensava em iniciar "um novo capítulo" de sua vida, em concordância com suas convicções políticas.

No dia 7 de outubro, centenas de combatentes do Hamas se infiltraram na fronteira fortificada e lançaram uma chuva de foguetes sobre Israel.

Mais de 1.300 israelenses, na maioria civis, morreram nas ruas, em suas casas e em uma festa rave.

- 'Te amo' -

Em Kissufim, o pesadelo da família Godo durou 25 horas.

Tom usou seu corpo para bloquear a porta do refúgio que separava ele, sua esposa e três filhas dos homens armados do Hamas na parte de fora.

A porta do cômodo fortificado pode ser aberta pelo lado de fora. Tom passou todo o dia e a noite de sábado segurando a porta, apesar das granadas e tiros disparados do lado de fora.

Na manhã seguinte, "duas balas atravessaram a blindagem da porta e perfuraram o seu corpo", contou seu pai.

"Ele caiu e morreu quase instantaneamente. Sua esposa, desesperada, abriu a janela do refúgio e deixou suas filhas saírem sem saber o que havia lá fora. Ela saltou pela janela e salvou suas vidas", acrescentou.

Duas das meninas, Tsuf, de quatro anos, e Geffen, de seis, estavam "absolutamente traumatizadas", contou o avô, e não compareceram ao funeral.

A filha mais velha do casal, Romy, de 11, insistiu em ir. Vestida com um capuz apesar do calor, a menina observa a terra vermelha cobrindo o caixão de seu pai.

Limor, a viúva de Tom Godo, vestindo calças jeans e sandálias, tomou brevemente a palavra no microfone.

"Em nossos últimos momentos no refúgio, tive tempo de lhe dizer que sei que sempre faria o possível, que nunca se renderia", declarou com a voz embargada.

"E agora me comprometo diante de ti a levar comigo o que me deste, nossa vida, nossas três belas filhas, e juntar um a um todos os pedaços da nossa vida despedaçada. Te amo".


FONTE: Estado de Minas


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