Violência das gangues no Haiti agrava desnutrição infantil

07 ago 2023
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É início de agosto e as crianças desnutridas não param de chegar ao Hospital Fontaine em Cité Soleil, a maior periferia de Porto Príncipe - controlada por organizações criminosas.

Instalado há mais de 30 anos neste bairro de extrema pobreza na capital haitiana, com 80% do território dominado por gangues armadas, este centro de saúde oferece um raro respiro aos moradores desta "área sem lei", nas palavras do fundador José Ulysse.

A equipe médica cuida de bebês e crianças levadas por suas mães, encaminhadas por associações ou mesmo por padres, explicou o diretor à AFP.

"Todos os dias recebemos aproximadamente entre 120 e 160 crianças para vacinação e fazemos exames, especialmente de desnutrição", destacou.

Ele lembra que "há quatro ou cinco anos, neste local, havia dez crianças que precisavam de ajuda nutricional por dia. Hoje (a quantidade) é entre 40 e 50".

Os casos menos graves voltam para casa, após as famílias receberem suporte nutricional e as crianças realizarem alguns exames. Aqueles que estão em estado crítico são hospitalizados.

"Alguns são totalmente esqueléticos e têm dificuldade para respirar", diz o diretor. Rostos magros, costelas protuberantes, abdômen inchado, raquitismo: as crianças, todas menores de dois anos, sofrem frequentemente de complicações médicas.

"Antes tínhamos uma capacidade de 20 a 25 leitos, mas este ano, com o pico (dos casos de nutrição severa), aumentamos para cerca de 60", diz Ulysse.

A maior parte das crianças permanece no hospital por semanas, junto com suas mães, até que o peso se estabilize. Geralmente, as mulheres também apresentam quadro de desnutrição.

- Violência das gangues -

Em um ano, as atividades das organizações armadas causaram um aumento de 30% na desnutrição aguda grave entre crianças, segundo dados publicados em maio pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

A desnutrição crônica atinge, atualmente, quase uma a cada quatro crianças. A previsão é que 115.600 sofram da forma mais letal de desnutrição neste ano, segundo esta agência da ONU.

A intensificação da crise política e de segurança, que afeta o pequeno país caribenho, é acompanhada de um preocupante ressurgimento de casos de cólera.

"Cada vez mais mães e pais carecem de meios para fornecer cuidados e alimentação adequada para seus filhos", disse em maio o responsável do Unicef no país, Bruno Maes.

"A violência tem consequências ao longo da vida da população haitiana: na saúde, porque as pessoas já não podem mais acessar hospitais e policlínicas; na economia, porque as pessoas não podem ir trabalhar sem correr risco de serem sequestradas e roubadas caminho; no comércio", entre outros, destacou Ulysse.

Ele denuncia que "a violência está por todas as partes".


FONTE: Estado de Minas


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