Conheça a cidade de MG onde o queijo é usado como moeda de troca e maturado até no porão

07 out 2023
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Cidade de pouco mais de 2 mil habitantes no Sul de Minas se destaca pela produção de queijos artesanais com sabor único. Selo 'Entre Serras & Queijos'

Rafael Lourenço / EPTV

Não há como falar em queijo sem pensar em Minas Gerais. E nesse quesito, o Sul de Minas está bem servido. A região e seus mais de 160 municípios tem uma forte ligação com a iguaria, que carrega tradição, história e muito sabor.

A EPTV Sul de Minas, Afiliada Rede Globo, exibe aos sábados, durante o mês de outubro, o programa "Entre Serras e Queijos", que mostra a história e as curiosidades da cultura queijeira.

Uma das cidades que têm forte identificação com a cultura queijeira é Alagoa. A pacata cidade tem queijo até no nome. A fama da produção local rompeu a Serra da Mantiqueira e ganhou vários estados.

Alagoa, com pouco mais de 2 mil habitantes, se dedica à produção de queijos

Devanir Gino/EPTV

Alagoa é um singelo ponto urbano em meio às preciosidades naturais da Serra da Mantiqueira. Com 2.749 moradores, conforme o IBGE, tem produção média de três toneladas de queijos diariamente. É uma média de mais de 1kg por habitante por dia.

Na cidade, a maioria produz queijo. Quem não produz, é da família de algum produtor. Mas cadastrados junto à Emater, são 135 queijarias.

Queijo no porão

Em uma cidade em que a produção é tão grande, os queijos não ficam só na vitrine não. Pelas ruas da cidade, as fachadas das casas escondem lugares inusitados onde o queijo é guardado.

É em um porão de acabamento modesto, que fica armazenada uma riqueza saborosa. Tudo começou em 2017, quando o queijeiro Francisco Humberto de Souza Barros voltou para a roça para montar uma nova queijaria. Ele precisava de um lugar para maturar os queijos e daí veio a ideia.

Queijo é maturado no porão de produtor em Alagoa

Devanir Gino/EPTV

"Eu não tinha esse lugar. E aí me veio na cabeça o porão, porque aqui foi um lugar que no tempo do meu avô materno foi uma fabriqueta de linguiça, depois de um tempo virou um maturador de cachaças e eu falei porque não maturar queijos né?", disse o produtor.

"Aqui é uma sala de maturação. Hoje é a menina dos meus olhos, da onde a gente consegue tirar os nossos melhores queijos"

Segundo o produtor, o fato dos queijos que ele produz serem maturados dentro de um porão dão a eles um sabor único e que também valorizam as peças.

"Porque na verdade aqui eu consigo ter uma cultura própria do meu queijo. Aqui eu consigo fazer um queijo que só eu consigo fazer aqui. Em outro lugar nenhum eu consigo. Aqui eu tenho uma temperatura muito boa, eu tenho uma umidade alta e com isso eu consigo um diferencial nesse queijo que eu maturo aqui no porão", conta Humberto.

Para produtor, fato de queijos serem maturados no porão dão sabor especial às peças

Devanir Gino/EPTV

Queijo por caminhonete

Em Alagoa é tanto queijo, que ele serve até de moeda de troca. Foi assim na negociação de uma caminhonete. O Juninho comprou ela do primo Chiquinho em troca de "algumas" peças, a chamada "catira".

"Eu liguei pra um amigo meu que compra bastante queijo. Ai eu falei que tinha um rapaz aqui, meu primo, que tinha 2 mil quilos de queijo, maturado, queijo top. Aí ele falou: 'eu pego' e eu falei: 'Chiquinho, então tá feito'. Aí ele pesou uns queijos e deu 1.900 (quilos) e uns quebradinho", contou o produtor Paulo Martins de Barros Júnior, o Juninho.

A troca da caminhonete por duas toneladas de queijo acabou sendo bom negócio pra todo mundo.

"Aí deu certo, o Juninho estava querendo vender e eu querendo comprar. Ele interessava no queijo, eu interessava no caminhonete e deu negócio", completou Francisco Antônio de Barros Jr, o Chiquinho.

Primos trocam queijo por duas toneladas de queijo em Alagoa

Devanir Gino/EPTV

Queijo único

Até poucos anos, o queijo produzido na cidade ainda era considerado do tipo parmesão. Mas não confunda: lá é produzido o "Queijo Alagoa". A denominação única depende do frescor dos mais de 1,1 mil metros de altitude, do pasto, do leite e de todo o aspecto dessa região em particular na serra. Há quem importe uma palavra francesa para explicar: é o terroir.

O queijo Alagoa é tipicamente artesanal, feito de leite cru. Os produtores garantem que o método de fazer influencia no produto final.

As qualidades desse queijo só são encontradas ali. As particularidades da Serra da Mantiqueira dão o tom da maturação. Um exemplo é o "Queijo Coronel", que ganhou esse nome por ter alta patente no processo de cura: pelo menos seis meses de maturação.

Alagoa, com pouco mais de 2 mil habitantes, se dedica à produção de queijos

Devanir Gino/EPTV

Os queijos também movimentam o comércio local. Lojas especializadas em atender turistas foram abertas. Em Alagoa, o queijo é tão preciso que em um dos comércios é guardado até dentro de um cofre.

A produção é toda escoada pela única agência dos Correios da cidade. Tanto que 90% do movimento são de queijos que são enviados para o Brasil inteiro. Para os produtores, esse é um reconhecimento de todo o esforço de antepassados.

"Pra mim é um reconhecimento do antepassado, do sofrimento do antepassado. Nós estamos vivendo um presente que os nossos avôs nem imaginavam que ia chegar ao ponto que chegou o queijo de Alagoa. Eu me sinto gratificante de estar participando e também de ter feito parte, estar fazendo parte da organização dos produtores, dos produtores de Alagoa em prol do queijo", completou o produtor Paulo Martins de Barros Júnior, o Juninho.

Veja mais notícias da região no g1 Sul de Minas


FONTE: G1 Globo


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