Guerra cultural coloca empresas americanas na defensiva

03 jul 2023
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Boicotar uma cerveja, atacar produtos que celebram a comunidade LGBTQIA+ e criticar os acionistas por promover a diversidade: ante as crescente críticas dos conservadores, as empresas americanas estão recuando em suas iniciativas corporativas progressistas.

Consumidores de ideologia conservadora realizaram um boicote contra a cerveja Bud Light depois de que a companhia se associou a uma "influencer" transgênero.

No geral, um protesto desse tipo tem pouco impacto, mas, desta vez, as vendas despencaram. A Bud Light perdeu, inclusive, nas últimas semanas, sua posição como a cerveja mais vendida nos Estados Unidos, em detrimento da Modelo Especial, segundo a Bump Williams Consulting.

A Anheuser-Busch InBev, empresa detentora da Bud Light, lançou rapidamente uma contraofensiva de marketing com um anúncio patriótico que mostrava paisagens americanas, seguido por uma campanha que destacava os seus empregados.

A rede de supermercados Target, por sua vez, optou por retirar certos artigos comercializados para o Mês do Orgulho devido às ameaças que seus empregados receberam.

E, nas assembleias anuais de acionistas, o número de resoluções que se opõem à inclusão de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nas empresas - particularmente sobre diversidade - mais do que duplicou nos últimos três anos, segundo o Instituto de Investimentos Sustentáveis (SII).

Embora esses tipos de resoluções frequentemente obtenham pouquíssimos votos, elas estão tendo repercussão.

- Reação a Trump -

Larry Fink, diretor da gestora de ativos BlackRock, que promoveu investimentos sustentáveis nos últimos anos, disse, recentemente, em uma conferência no Colorado, que deixou de usar o termo "ESG", porque ele foi altamente politizado.

Essa nova vigilância se estende ao mundo do esporte: depois de que alguns jogadores expressaram sua reticência em usar os símbolos do arco-íris, a Liga Nacional de Hóquei (NHL) decidiu que as equipes não deveriam mais usar camisetas especiais que apoiem os direitos LGBTQIA+, porque haviam se convertido em uma "distração".

"A tensão de navegar entre grupos de pessoas que pensam muito, muito diferente sempre esteve aí", disse Alison Taylor, especialista em ética corporativa da Universidade de Nova York.

Mas a situação mudou à medida que a vida política foi se polarizando cada vez mais, acrescentou.

As corporações "se envolveram em questões controversas em 2017-2018, quando houve muita resistência organizada a (Donald) Trump; isso parecia uma ótima maneira de atrair os jovens e gerar receita para os acionistas", disse.

Ainda que a perspectiva de conseguir uma mudança real em temas como o aborto e o controle de armas não pareça mais possível no âmbito político, os jovens chegaram a acreditar que poderiam exercer pressão por meio das empresas, aponta Taylor.

- Política no trabalho -

Diferentemente de seus pais, para quem o envolvimento em política se reduz às urnas ou às doações partidárias, os mais jovens "estão mais inclinados a levar em conta sua ideologia política na forma de investir, comprar, inclusive no trabalho", afirma David Webber, especialista em investimento ativista da Universidade de Boston.

As reações a algumas iniciativas das empresas foram amplificadas por líderes políticos, incluindo o governador da Flórida e candidato nas prévias presidenciais republicanas, Ron DeSantis, que atacou a Disney por algumas de suas posições progressistas.

E DeSantis não está sozinho. Financiadas em parte por empresas do setor de petróleo e gás, "organizações conservadoras começaram uma campanha para aprovar leis em diferentes estados, a fim de enfrentar as práticas de ESG", disse Webber.

Até agora, os resultados foram mistos. "Algumas empresas podem, pelo menos, se distanciar em parte da retórica sobre a ESG. Mas temos visto pouquíssima realocação séria de ativos", disse.

Impulsionadas por clientes, acionistas e empregados, as empresas não têm outra saída a não ser "se envolver em alguns assuntos políticos", disse à AFP Daniel Korschun, especialista em marketing da Universidade de Drexel.

No entanto, "as pessoas realmente começam a reagir negativamente quando sentem que estão sendo muito pressionadas", foi o caso da controvérsia da Bud Light, acrescentou.

"Há um equilíbrio muito delicado entre defender uma causa e pressionar muito", explicou.

Em resposta, "muitos estão retrocedendo até que possam decifrar esse novo terreno no qual se encontram", finalizou.


FONTE: Estado de Minas


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