Camp rock: como acampamentos musicais estão abrindo espaço para meninas virarem roqueirinhas

27 set 2023
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!

Projetos vão além das aulas de música e têm conversas sobre empoderamento e defesa pessoal. Nesta semana, g1 publica série de reportagens sobre rock tocado por mulheres. Apresentação de bandas no Girls Rock Camp em Sorocaba, no interior de São Paulo

Reprodução/Instagram

"Camp Rock" é o nome da série de filmes que revelou dois nomes queridos da cena pop roqueira americana (Jonas Brothers e Demi Lovato). Hoje, no entanto, a expressão tem sido usada para falar de outra coisa: acampamentos dedicados a garotas interessadas em aprender o poder de ser roqueira.

Flávia Biggs mantém um projeto neste estilo em Sorocaba, no interior de São Paulo. Desde 2013, ela organiza o Girls Rock Camp, que recebe garotas de 7 a 17 anos com algum interesse na música, não apenas no rock. "Quando eu conheci música, foi com o punk rock. Eu me identifiquei porque era uma coisa que eu conseguia fazer, e a estratégia que o Girls Rock Camp, que é a atividade que a gente desenvolve e promove, é exatamente essa desmistificação da música", explica Flávia ao g1.

Nesta semana, o g1 publica uma série de reportagens sobre o rock tocado por mulheres. Quais as iniciativas e debates sobre o rock feminino?

"Você consegue fazer música a partir de expressões de sentimentos, que não necessariamente está dentro de um modelo quadrado. A gente oferece essa liberdade para a juventude, desde pegar um sintetizador e fazer um puta som ou só pegar a guitarra e tocar. Para adolescentes, pode dar um boom. O que a gente faz é oferecer possibilidades."

Para Flávia, o rock é um estilo "que nasceu queer e negro", mas envelheceu mal, pois não conseguiu acompanhar as tendências. "O rock era contraditório, antissistema, contra o patriarcado e isso não penetrou. A rebeldia não continuou ou é uma rebeldia enlatada que não soube renovar enquanto revolução."

Meninas no Institute of the Musical Arts, nos EUA, e garotas no Girls Rock Camp, em Sorocaba

Divulgação/Facebook do instituto/Divulgação/Instagram do Girls Rock Camp Brasil

Ela explica que a palavra "rock", dentro de “Girls Camp Rock”, tem mais a ver com a atitude do que com o som do estilo.

"As bandas aqui podem fazer diversos tipos de som. É atitude rock 'n roll, que faltou no envelhecimento do rock. E vale lembrar que não existe só um tipo de rock. Existe o rock branco, hétero, cis, mas existe o rock questionador, que traz diversidade, questiona o status quo, que quer uma sociedade melhor para todo mundo, a revolução."

O projeto não chega a ser um acampamento em si, como acontece no Institute of the Musical Arts, de June. Por lá, não há acomodações para passar a noite, mas são oferecidas as refeições durante o dia. A programação é intensa: aulas com noções básicas dos instrumentos, como guitarra, baixo e bateria, expressão corporal, serigrafia e stencil, composição musical, fanzines, defesa pessoal, imagem e identidade.

A próxima edição acontece entre os dias 15 a 20 de janeiro de 2024, com atividades das 9h às 17h. Flávia ainda lembra que não é preciso ter qualquer experiência em instrumentos musicais para participar. O valor da inscrição ainda não foi divulgado.

Atividade no Girls Rock Camp Brasil, em Sorocaba

Reprodução/Instagram

Para montar este projeto, a artista se inspirou no Rock 'n' Roll Camp for Girls, ou apenas Rock Camp. O projeto nasceu em Portland, no estado americano de Oregon, em 2001, a partir de um trabalho estudantil da Portland State University.

Iniciativas parecidas, então, pipocaram pelas américas do Norte e Sul, como Brasil e Argentina, e em países da Europa e da Oceania.

"O tempo foi passando e o rock ficando trás. Quando a gente fala hoje no Camp sobre o Riot Girls, sobre feminismo punk, Bikini Kill, tocamos essas músicas, contamos sobre as primeiras bandas com mulheres e gênero expansivo, muitas meninas se apaixonam."

"Uma menina na pandemia me mandou uma mensagem falando que tinha descoberto o Riot Girl, e o que era o feminismo nos anos 90 e que estava apaixonada. Uma menina de 17 anos ouvindo Bikini Kill pela primeira vez é maravilhoso."

As pioneiras americanas

Fanny: a primeira banda feminina de rock contratada por um grande gravadora

Quando June Millington, da banda Fanny, começou a se interessar por instrumentos musicais, lá no início da década de 1960, ela não tinha lá muitos recursos e fontes para aprender tocá-los. "Não havia onde você conseguir informações, você tinha que perguntar", disse ela ao g1, em entrevista sobre o pioneirismo de seu grupo.

"Para uma jovem, era perigoso porque os homens sabiam dessas coisas e quando eu pedia ajuda a eles, achavam que estava dando em cima."

Fanny, a banda de June, ficou na ativa entre os anos de 1964 e 1975. Na sua versão mais conhecida ainda faziam parte sua irmã, Jean, Alice de Buhr e Nickey Barclay. O quarteto foi o primeiro grupo roqueiro formado apenas por mulheres a assinar um contrato com uma grande gravadora. E foi um marco, com direito a elogios de David Bowie e Beatles.

A experiência do passado a fez contribuir ainda mais para que as mulheres estivessem presentes na cena roqueira. Em 1986, ela abriu o Institute for the Musical Arts, nos Estados Unidos.

O projeto, sem fins lucrativos, tem como objetivo incentivar as garotas com interesse em música. Entre outras atividades, June e sua equipe:

mantêm gravações de mulheres na música;

oferecem mentorias e apoio às jovens roqueiras;

organizam um acampamento para elas, o Rock 'n Roll camp for girls, onde ficam hospedadas no local e têm acesso a instrumentos musicais, aulas com artistas profissionais e muito tempo para praticar.

"Quero dar um espaço seguro para as meninas conseguirem essa informação. É um lugar seguro e cheio de magia com todos os tipos de equipamentos e dois estúdios de gravação."


FONTE: G1 Globo


VEJA TAMBÉM
FIQUE CONECTADO