César Lacerda resume no álbum ‘Década’ as vitórias obtidas no intervalo de derrotas

22 ago 2023
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Revelado em 2013, artista mineiro rebobina no formato de voz e violão canções que lhe deram reconhecimento no meio musical ao longo de dez anos, mas não popularidade. Capa do álbum 'Década', de César Lacerda

Lou Alves

Resenha de álbum

Título: Década

Artista: César Lacerda

Edição: YB Music / Circus Produções

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ Quando César Lacerda canta versos como “Faz o teu / Pisa devagarinho / Enquanto os homens gritam / Suas glórias, troféus / ... / Faz o teu / Faz sem fazer alarde / No tempo que lhe cabe / Aos poucos, por vez / No intervalo das derrotas / Entre a perda e o que esgota / Faz um ninho pra viver”, o artista parece estar cantando para ele mesmo se ouvir e se encorajar a seguir na carreira fonográfica iniciada há dez anos com a edição do álbum Porquê da voz em 2013.

Década – álbum de voz e violão que o cantor, compositor e músico lança na sexta-feira, 25 de agosto – resume em 13 faixas algumas vitórias alcançadas por Lacerda no intervalo das derrotas, para usar expressão da letra de Faz tudo, canção inédita que abre o disco concebido por Filipe Catto e previsto para ser editado em LP em setembro.

Mineiro nascido em 1987 em Diamantina (MG) que morou em Belo Horizonte (MG) e depois migrou para o Rio de Janeiro (RJ) em 2007, antes de se fixar em São Paulo (SP) a partir de agosto de 2015, César Lacerda é um dos bons compositores surgidos no Brasil nos anos 2010.

Só que Lacerda chegou em tempos cruéis para artistas que não se enquadram na moldura do mercado. Ao longo da década, o artista firmou parcerias com nomes expressivos da música brasileira – como Chico César, Jorge Mautner, Paulo Miklos e Ronaldo Bastos – e lançou um punhado de boas canções em álbuns como Paralelos & infinitos (2015) e Tudo tudo tudo tudo (2017), disco em que esboçou guinada pop que ficou na promessa porque o cantor se recusou a ser trivial.

Sem falar na obra-prima lançada com Romulo Fróes – O meu nome é qualquer um (2016), disco do qual rebobina em Década a beleza estranha de Faz parar (música de César Lacerda com letra de Romulo Fróes, 2016).

Só que, em que pesem tantos êxitos artísticos, Lacerda – como Romulo Fróes, aliás – permaneceu em nicho bem reduzido, tendo a obra consumida por público antenado, mas inexpressivo em termos mercadológicos.

Nem a mesmo o fato de ter tido música gravada conjuntamente por Gal Costa (1945 – 2022) e Maria Bethânia – Minha mãe, parceria com Jorge Mautner apresentada no álbum A pele do futuro (2018), de Gal, em histórica gravação amplificada na trilha sonora da novela Amor de mãe (Globo, 2019 / 2021) – alterou a cotação de Lacerda na bolsa de apostas de mercado volátil e imediatista.

O compositor, a propósito, registra Minha mãe em Década, álbum gravado somente em dois dias, 5 e 6 de junho de 2023, no estúdio da gravadora YB Music em São Paulo (SP).

“Talvez o tempo possa nos dizer / O que as escolhas vieram trazer / ... / A imensidão demora”, pondera Lacerda nos versos de Espiral (2019), parceria com Ceumar que batizou álbum lançado há quatro anos pela artista conterrânea.

Com violão que evoca a bossa carioca, Espiral também figura no repertório de Década ao lado da balada Touro indomável (César Lacerda e Francisco Vervloet, 2015), de O fazedor de rios (2015) – parceria com Luiz Gabriel Lopes e Luiza Brina que deu nome a álbum solo de Gabriel – e de canções que exalam resignação e paciência, notadamente Isso também vai passar (2017), porque Lacerda já parece ter a compreensão de que o relógio criativo do artista bate fora do tempo industrial. Porque Lacerda faz música, não hits.

E porque Lacerda, afinal, é também um cantor, como enfatiza nos versos de Porquê da voz (2013), canção que abriu o primeiro álbum do artista e que fecha a revisão de Década, como a encerrar um ciclo para dar início a outro.

Lacerda traz na voz o desejo de cantar o Brasil. Falta o Brasil querer ouvir esse canto suave, eco de uma nação na essência extremamente musical. Mas César Lacerda continua fazendo o dele, sem alarde e, sob tal prisma, o artista expõe em Década a voz e os feitos de uma pessoa vitoriosa.


FONTE: G1 Globo


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