Do rock ao roll: ‘bancário-roqueiro’ fez cirurgia de varizes e enfrentou mais de 950 km de estrada para ir ao 1º Rock in Rio, em 1985

13 jul 2023
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Nesta série de reportagens exclusivas do g1, você confere as maiores loucuras que fãs do Oeste Paulista fizeram em nome do bom e velho rock and roll. Cesinha Crepaldi (colete preto) e os amigos durante a 1ª edição do Rock in Rio, em 1985

Cedida/Cesinha Crepaldi

Qual foi a maior loucura que você já fez em nome de uma paixão? Para os fãs de rock and roll do Oeste Paulista, elas são várias. Afinal, a irreverência é uma das marcas que une a vida dessas pessoas ao amor pelo gênero eletrizante que ultrapassa gerações e faz nascer histórias como a de Cesinha Crepaldi. 🤘

Era julho de 1984 quando o então bancário, à época, com 22 anos, ouviu falar sobre o Rock in Rio, que aconteceria pela primeira vez no Brasil em 11 de janeiro de 1985 e, anos mais tarde, sagrou-se como um dos maiores festivais de música do mundo, chegando até Portugal, Espanha e Estados Unidos.

O evento pioneiro em terras brasileiras reuniria grandes nomes do rock nacional e internacional, como Iron Maiden, AC/DC, Whitesnake, Ozzy Osbourne, Yes, Scorpions, Pepeu Gomes com Baby Consuelo, Erasmo Carlos e Ney Matogrosso, que se revezariam no palco montado em uma área de 250 mil metros quadrados, em 10 dias ininterruptos de festival na Cidade do Rock, no Rio de Janeiro (RJ).

Solução milagrosa 🙏

Fã assíduo de hard rock, Júlio César Crepaldi não deixaria passar a chance de ver seus ídolos de perto. Ao mesmo tempo, não podia arriscar o seu emprego nessa aventura, já que teria de passar dez dias na Cidade Maravilhosa.

“Eu era bancário, estava casado e tinha um filho de um ano. Como eu ia ficar ausente do banco por dez dias? Eu não poderia correr o risco de avisar que eu ia me ausentar por um festival, que eles iam achar um absurdo, eu poderia ser mandado embora, e eu não poderia também colocar em risco a minha família. Eu não poderia fazer isso”, lembrou ao g1.

Ao g1, o radialista lembrou que o procedimento já estava previsto e, segundo o médico, ele não poderia envelhecer com o problema na perna direita.

Fã de hard rock, Cesinha Crepaldi viu seus ídolos de perto durante a 1ª edição do Rock in Rio, em 1985

Sinomar Calmona

O amor pelo rock, porém, falou mais alto e o fez pensar em uma situação que, inevitavelmente, teria de passar e, naquele momento, se apresentou como uma solução milagrosa para conseguir alguns dias de folga: uma cirurgia de varizes.

“Eu fui até ele e perguntei: ‘Se eu for operado, quanto tempo terei que ficar de repouso?’. Ele respondeu: ‘Você terá que ficar pelo menos 30 dias de repouso’. Eu disse: ‘Perfeito, é o que eu preciso”, recordou Crepaldi.

A cirurgia foi marcada para o dia 22 de dezembro e gerou estranheza no especialista, já que a época das festas de fim de ano se aproximava. Mesmo assim, Cesinha Crepaldi se manteve firme em sua decisão. Ele foi operado e ficou de repouso nos 15 primeiros dias e, nos outros 15, viajou rumo ao Rock in Rio. 🛣

“Naqueles tempos, não havia festivais pelo Brasil, era uma coisa inédita, e eu tinha que fazer essa loucura”, afirmou ao g1.

Recém-operado das varizes, Cesinha Crepaldi (colete preto) foi levado de moto pelos amigos até a Cidade do Rock

Cedida/Cesinha Crepaldi

‘Levado no colo’

Foram quase 20 horas na estrada percorrendo os mais de 950km que separam Presidente Prudente (SP) do Rio de Janeiro. Cerca de 15 amigos participaram da excursão rumo ao primeiro Rock in Rio e, na ocasião, o grupo locou um caminhão com um trailer embutido contendo banheiro, sala, cozinha e quartos.

“Para aquele tempo, era um luxo. No fundo, na traseira, como se você fosse colocar uma bagagem, dava para colocar uma moto, num guincho, todo fechado”, descreveu Crepaldi.

Notícia publicada na época em que os jovens prudentinos foram ao festival, no Rio de Janeiro (RJ)

Reprodução/Jornal O Imparcial

Os amigos, então, optaram por levar a motocicleta de um deles, do modelo XL, na viagem, isso tudo para ajudar nos deslocamentos de Crepaldi até a Cidade do Rock, localizada em Jacarepaguá, região onde o grupo ficou aportado. 🛵

“Eu não podia caminhar, eles me levavam no colo, tinha todo aquele cerimonial para eu chegar, porque tinha 1 km para ser percorrido a pé, e meu amigo me levava e me trazia de moto até o trailer. Isso facilitou. Não estourou meus pontos, deu tudo certo, só tinha que ficar em pé e sentado na plateia do festival”, contou ao g1.

Ficou combinado entre o grupo de que as fotos tiradas no festival não fossem divulgadas inicialmente, para não prejudicar o bancário no emprego. Dessa forma, os amigos de trabalho ficaram sabendo da história anos depois.

“Com o passar do tempo, eu fui soltando que tinha ido, sim, mas eu já estava em um outro período, depois de oito, dez anos no banco. Foi uma reação de riso. Até uma chefia falou: ‘você poderia ter falado para mim, eu teria liberado você”, recordou.

O roqueiro tem um acervo de 4,5 mil discos colecionados ao longo dos anos

Cedida/Cesinha Crepaldi

Rock ontem e sempre!

Mesmo após três décadas, a presença do rock na vida de Cesinha Crepaldi é constante. O outrora adolescente que adorava ouvir suas bandas preferidas nas fitas cassetes, hoje, tem um acervo de 4,5 mil discos colecionados ao longo de anos.

Desde 1991, o radialista apresenta o programa de web rádio “Stage Diving”, que traz, todos os domingos, às 20h, músicas, histórias e curiosidades do mundo do rock. 🎶

“O rock representa tudo para mim. Eu vivo ele 24 horas. Eu faço excursão para shows desde 1981, então, é uma coisa muito presente em minha vida. Preparo shows, faço festivais de bandas de garagem, tenho uma banda chamada Crusader e um fã-clube dedicado à banda Kiss. Me fantasio para ir aos shows desde a primeira apresentação do grupo no Brasil, em 1983. É algo bem popular para quem é do meio rock”, ressaltou ao g1.

Desde 1991, o radialista apresenta o programa de web rádio “Stage Diving”, em Presidente Prudente (SP)

Cedida/Cesinha Crepaldi

Seja para ver os ídolos de perto ou para sentir a adrenalina de colocar os pés na estrada, as loucuras em nome do rock ultrapassaram gerações e continuarão rendendo histórias memoráveis.

“Hoje, filhos e esposa me acompanham, além de uma galera da cidade que participa das excursões que eu organizo, tanto para o Rock in Rio quanto para outros festivais de rock que acontecem em São Paulo, na capital”, concluiu o radialista.

Série especial

Nesta semana em que é comemorado o Dia Mundial do Rock, o g1 publica uma série exclusiva de três reportagens especiais em que você pode conferir as maiores loucuras que fãs do Oeste Paulista fizeram em nome do bom e velho rock and roll.

A história da família de Luciano Luck abriu a série na terça-feira (11).

Já na quarta-feira (12), foi a vez de mostrar o amor de Marli Matias pelo The Beatles.

A história do fã Cesinha Crepaldi encerra a série nesta quinta-feira (13), Dia Mundial do Rock.

Cesinha Crepaldi, fantasiado, e a esposa, Vania Crepaldi, em um show da banda Kiss

Cedida/Cesinha Crepaldi

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FONTE: G1 Globo


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