Entenda como a Uber usou táticas questionáveis para expandir negócios, segundo investigação

11 jul 2022
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Consórcio de Jornalistas aponta que a empresa se aproveitou de reação violenta do setor de táxi contra seus motoristas para obter apoio e escapar das autoridades reguladoras. Uber culpa ex-presidente, que nega acusações. Investigação jornalística encontrou possíveis táticas questionáveis para expansão da Uber.

Divulgação

Investigação feita pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos mostrou, neste domingo (10), que a empresa de transportes Uber usou táticas eticamente questionáveis e potencialmente ilegais para impulsionar sua frenética expansão global há quase uma década.

A Uber atribuiu os problemas ao cofundador e ex-presidente Travis Kalanick – sob denúncias de assédio sexual, ele deixou a empresa em 2017.

Kalanick, por sua vez, negou as acusações apontadas pela investigação dos jornalistas.

O que foi descoberto:

Apelidada de "Arquivos da Uber", a investigação feita por dezenas de veículos aponta que representantes da empresa aproveitaram a reação às vezes violenta do setor de táxi contra seus motoristas para obter apoio e evadir as autoridades reguladoras, enquanto buscava conquistar novos mercados;

Os relatórios dizem que os arquivos revelam que a Uber também fazia lobby com governos para ajudar sua expansão, encontrando em Emmanuel Macron, ministro da Economia entre 2014 e 2016, um aliado na França. A empresa acreditava que o atual presidente francês encorajaria os reguladores "a serem 'menos conservadores' em sua interpretação das regras que limitam a operação da empresa", disse o Post;

Macron era abertamente defensor da Uber e da ideia de transformar a França em uma "nação de empreendimentos" em geral, mas documentos vazados sugerem que o endosso do então ministro estava em desacordo com as políticas de esquerda do governo;

A investigação observa que as ações da Uber são ilegais e que seus executivos sabiam disso, citando um deles ao brincar com o fato de que teriam se tornado "piratas";

De acordo com The Guardian, a Uber adotou táticas similares em países como Bélgica, Holanda, Espanha e Itália, mobilizando motoristas e os incentivando a denunciar à polícia quando eram vítimas de violência, visando usar a cobertura midiática a seu favor;

Motoristas do Uber em toda a Europa enfrentaram violentas represálias de taxistas que os viam como uma ameaça aos seus meios de subsistência. A investigação descobriu que "em alguns casos, quando os motoristas eram atacados, os executivos da Uber reagiam rapidamente para capitalizar" na busca de apoio regulatório e público, informou o Post;

A rápida expansão da Uber foi sustentada por subsídios aos motoristas e descontos em tarifas que afetaram o mercado dos taxistas e "muitas vezes sem buscar licenças para operar como táxi ou serviço de limusine", segundo The Washington Post;

A investigação também indica que a Uber trabalhou para evitar investigações regulatórias, aproveitando uma vantagem tecnológica, escreveu o Post. O jornal descreveu o momento em que o cofundador e ex-presidente Travis Kalanick implementou um "botão de emergência" para remover remotamente o acesso aos sistemas internos da Uber em dispositivos de um de seus escritórios em Amsterdã durante uma inspeção das autoridades;

"A violência garante o sucesso", escreveu Kalanick , segundo a investigação, a outro dos líderes da empresa enquanto promovia um contra-protesto em meio às manifestações de 2016 em Paris contra a chegada da Uber.

Como foi feita a investigação:

No total, são 124 mil documentos de 2013 a 2017, obtidos inicialmente pelo jornal britânico The Guardian e posteriormente compartilhados com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).

Os documentos incluem trocas de mensagens de texto e e-mail entre executivos, incluindo o cofundador e ex-presidente Travis Kalanick, que foi forçado a renunciar em 2017 devido a acusações de práticas brutais de gestão e vários episódios de assédio sexual e psicológico dentro da companhia.

O que diz a Uber e Kalanick:

A porta-voz de Kalanick, Devon Spurgeon, negou veementemente as descobertas, alegando que ele "nunca sugeriu que a Uber se aproveitasse da violência às custas da segurança de seus motoristas". A empresa, no entanto, transferiu a culpa no domingo à liderança de Kalanick, cujos "erros" já vieram à público.

"Passamos de uma era de confronto para uma de colaboração, demonstrando vontade de vir à mesa e encontrar pontos de acordo com antigos opositores, incluindo sindicatos e companhias de táxi", disse a Uber, lembrando que seu substituto, Dara Khosrowshahi, "foi encarregado de transformar todos os aspectos de como a Uber opera."

A porta-voz também afirmou que o executivo "nunca autorizou nenhuma ação ou programa que obstruiria a justiça em nenhum país". Kalanick "nunca foi acusado em nenhuma jurisdição por obstrução da justiça ou qualquer outro crime relacionado", acrescentou.


FONTE: G1 Globo


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