Filme ‘Chic Show’ rememora poder do baile black que deu identidade e orgulho ao jovem negro paulistano

03 set 2023
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Disponível no Globoplay, documentário traz depoimentos de Emicida, Jorge Ben Jor, Mano Brown, Péricles, Rappin' Hood e Thaíde ao contar a história da equipe de Luiz Alberto da Silva, o Luizão. Luiz Alberto da Silva, o Luizão, criador da equipe de bailes 'Chic Show', é o protagonista do documentário de Emílio Domingos e Felipe Giuntini

Divulgação / Globoplay

Poster do filme 'Chic Show'

Reprodução

Resenha de documentário musical

Título: Chic Show

Direção: Emílio Domingos e Felipe Giuntini

Roteiro: Milena Manfredini

Produção: Globoplay

Cotação: ★ ★ ★ ★ ★

♪ “A memória é poder. [...] Existe uma tradição. E uma tradição muito bonita...”, ressalta Emicida quase ao fim do documentário Chic Show.

“Chic show é resistência e sempre vai ser. Esse é o grande legado. É só a gente se organizar, é só a gente se unir, é só a gente conhecer a nossa própria história que o resto a gente consegue fácil... Bem, não vai ser tão fácil assim... Mas a gente consegue”, emenda outro rapper paulistano, Thaíde.

A fala de Thaíde arremata o documentário produzido pelo Globoplay e disponível na plataforma desde quinta-feira, 31 de agosto, dois meses após ter sido apresentado em 14 de junho na abertura da 15ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, em São Paulo (SP).

O filme de Emílio Domingos e Felipe Giuntini conta muito bem a história da equipe de baile criada em 1968 por Luiz Alberto da Silva, o Luizão, personagem central do documentário. A partir dos anos 1970, os bailes da Chic Show foram fundamentais para criar um movimento black em São Paulo (SP), dando identidade, voz, orgulho e referência a milhares de jovens negros da cidade, pobres em maioria.

A sequência de depoimentos de nomes como Mano Brown, Péricles e o já mencionado Thaíde reitera a importância do pioneirismo de Luizão como empreendedor ao lado dos irmãos. “Eu me sentia em casa naquele local”, lembra Rappin' Hood. “Era onde eu me sentia eu”, reitera Ice Blue, rapper do grupo Racionais MC's.

Costurado pelas memórias de Luizão, que se esforça para segurar a emoção ao recordar, diante do filho e do neto, o “pedágio” que teve que pagar para se impor como empresário negro em mundo corporativo dominado por brancos em país que não se assume racista, o roteiro de Milena Manfredini entrelaça imagens de arquivo com depoimentos que atestam a importância determinante da Chic Show para construir uma até hoje pouco conhecida (pelos outros estados do Brasil) cena black paulistana.

Essa cena foi erguida paralelamente ao movimento Black Rio, muito mais abordado pela mídia porque quase todos os pioneiros do soul e do funk brasileiros – o paraibano Cassiano (1943 – 2021), o carioca Tim Maia (1942 – 1998), o baiano Hyldon e os paulistas Dom Salvador e Tony Tornado – estavam no Rio de Janeiro (RJ) quando o gênero irrompeu com força no alvorecer da década de 1970.

Ao promover a festa chamada São Paulo Chic entre 1972 e 1974, a equipe da Chic Show foi ganhando poder e dinheiro à medida que mobilizava cada vez mais a juventude negra paulistana – a ponto de milhares de jovens disputarem ingressos, comprarem sapatos de mocassim de bico fino e lotarem os salões de beleza para cuidar do cabelo black power para frequentar, como mandava o figurino, o baile black posteriormente rebatizado Chic Show e realizado na quadra do clube Palmeiras.

Enquanto criava polo de resistência da cultura negra em Sampa, a equipe de Luizão foi se expandindo e ocupando outros espaços pela cidade, além de ter virado selo fonográfico, editando discos em parceria com gravadoras multinacionais, e entrado nas ondas do rádio.

Nelson Triunfo, dançarino da Chic Show, 'voa' sobre a plateia com a capa de James Brown (1933 – 2006) no show feito pelo cantor em 1978

Penna Prearo / Divulgação

De início, os bailes tinham como atrações os próprios DJs da Chic Show, hábeis ao tocar tanto discos de artistas de música negra do Brasil como dos Estados Unidos. Depois, a equipe passou a apresentar shows de nomes como Jorge Ben Jor – “Nunca tinha cantado para tanta gente preta junta”, celebra Ben no filme – e Tim Maia, entrando na sequência na seara internacional.

A apresentação do cantor norte-americano James Brown (1933 – 2006), pai do funk, em 11 de novembro de 1978, foi um dos diversos marcos históricos da Chic Show. Nessa noite, o lendário dançarino Nelson Triunfo voou sobre a plateia com a capa de Brown.

Por ter acompanhado a evolução da música negra, a Chic Show também fez história ao apresentar, em janeiro de 1988, show do rapper Koo Moo Dee, primeiro astro norte-americano do hip hop a se apresentar no Brasil, impactando nomes como Mano Brown, KL Jay e Thaíde.

Na década de 1990, a Chic Show também foi pioneira ao abrir espaço para a geração de Belo e Péricles, sambistas influenciados pela black music. “A Chic Show foi a mãe do pagode dos anos 1990”, resume Péricles.

Tudo isso é contado no documentário Chic Show sem didatismo, mas com clareza, através dos depoimentos de nomes como o de Sandra de Sá, pioneira voz feminina da música black brasileira.

Sem nunca deixar de evidenciar o protagonismo de Luizão, o filme dá voz a artistas que corroboram o poder da Chic Show na construção da identidade do jovem negro paulistano. Poder potencializado pelas memórias revolvidas neste filme que documenta um legado transformador.


FONTE: G1 Globo


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