Hamilton de Holanda é reverente a Djavan em álbum que preserva melodias e ritmos do compositor sem cair no ‘som do barzinho’

17 set 2023
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Capa do álbum 'Samurai – A música de Djavan', de Hamilton de Holanda

Dani Gurgel com arte de Pedro Araújo

Resenha de álbum

Título: Samurai – A música de Djavan

Artista: Hamilton de Holanda

Edição: Sony Music

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ É na pisada do baião que Hamilton de Holanda abre os caminhos de Samurai – A música de Djavan, álbum em que toca 12 músicas do compositor alagoano. A pisada nordestina logo conduz o músico à sublime melodia da canção Faltando um pedaço (1981), tocada com reverência no bandolim pelo instrumentista carioca de vivência brasiliense.

Na sequência do disco, os caminhos ficam menos previsíveis quando o bandolinista se embrenha pelos contornos jazzísticos e mouros de Malásia (1996) para, em seguida, desaguar na melodia de Oceano (1989) em gravação que embute vocalizes da cantora e flautista indiana Varijashree Venugopal.

É no equilíbrio entre a reverência melódica e rítmica à obra de Djavan e o desbravamento de outros caminhos harmônicos que se situa o disco produzido pelo próprio Hamilton de Holanda com Marcos Portinari.

Contudo, o álbum Samurai pende ligeiramente para a reverência sem jamais cair na trivialidade genérica do som do barzinho.

O samba Flor de lis (1976), por exemplo, cai no habitual suingue com a voz (bem colocada) de Zeca Pagodinho e os toques do pianista Salomão Soares, do baterista Big Rabello e dos percussionistas Armando Marçal e André Siqueira, além do fraseado sobressalente do bandolim de Hamilton.

Como a música de Djavan também embute um jazz apre(e)ndido pelo compositor na vivência em Maceió (AL), Irmã de Neon (1996) ganha o molho do jazz latino pelo toque serelepe do piano do músico cubano Gonzalo Rubalcaba, mostrando que o ritmo guia muitas músicas de Djavan.

Por conta dessa sobressalência rítmica, Luz (1982) se reacende com a voz do próprio Djavan – mas com o balanço particular de Hamilton – e Capim (1982) cresce novamente com mix de funk e samba com o adubo jazzístico recorrente no álbum.

Já Asa (1986) voa com o bandolim turbinado por efeitos eletrônicos e, mesmo sem se perder da rota melódica e rítmica apontada pela gravação original feita por Djavan para o álbum Meu lado (1986), ganha toque mais acentuadamente funkeado.

Djavan reaparece como intérprete no canto de Lambada de serpente (1980), canção que tem melodia e letrada preservadas em gravação em que o toque do bandolim de Hamilton é o confeito da faixa adornada com cordas regidas por Kleber Augusto e orquestradas por Rafael Rocha, arranjador da música.

Já Lilás (1984) tem a cor não tão viva da voz do cantor uruguaio Jorge Drexler em gravação de textura eletrônica e de menor fluência no conjunto do disco, ainda que Drexler mostre bom domínio do idioma português. Faltou brilho!

Exemplo da reverência recorrente no álbum Samurai, a gravação de Sina (1982), feita com ênfase no ritmo do ijexá, tem valor afetivo para Hamilton pelo fato de a música ter sido rotineira no repertório da banda formada pelo músico na adolescência com amigos da escola.

Por fim, a faixa-título Samurai (1982) junta Hamilton com a saxofonista norte-americana Lakecia Benjamin e com a cantora paulistana Gloria Groove em gravação que ambiciona as pistas ao buscar exuberância mais perceptível em outras faixas deste álbum em que Hamilton de Holanda mostra entendimento da música de Djavan.

O respeito de Hamilton de Holanda à obra do compositor quase sempre se harmoniza com a personalidade artística do bandolinista.


FONTE: G1 Globo


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