Maria Bethânia é a número 1 de ‘Vol. 2’, álbum em que ritmista Marcelo Costa se escora em vozes da MPB

21 out 2023
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!

Cantora reina no elenco estelar de disco que agrega Marisa Monte, Ney Matogrosso, Teresa Cristina, Roberta Sá e Mar'nália para festejar 50 anos de carreira do baterista e percussionista. Marcelo Costa lança o segundo álbum, 'Vol. 2', na terça-feira, 24 de outubro, com onze gravações feitas com elenco quase inteiramente feminino

Nando Chagas / Divulgação

Capa do álbum 'Vol. 2', de Marcelo Costa

Nando Chagas

Resenha de álbum

Título: Vol. 2

Artista: Marcelo Costa

Edição: Biscoito Fino

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ Na história da música brasileira, são bem poucos os discos que agregam estrelado time de cantoras como Maria Bethânia, Marisa Monte, Mart'nália, Roberta Sá, Teresa Cristina, Jussara Silveira e Paula Morelenbaum. O segundo álbum do ritmista carioca Marcelo Costa, Vol. 2, se escora nessa proeza e, de quebra, ainda traz Ney Matogrosso, bendito fruto nesse elenco feminino.

No mundo a partir de terça-feira, 24 de outubro, em edição da gravadora Biscoito Fino, o álbum Vol. 2 é a sequência do álbum de 2019 em que o baterista e percussionista – músico requisitado pelos maiores nomes da MPB – reuniu ícones como Adriana Calcanhotto, Caetano Veloso, Gal Costa (1945 – 2022) e Lulu Santos, revitalizando gravações feitas em 1999.

Em cena desde 1974, ano em que ingressou no grupo carioca A Barca do Sol, Marcelo Costa toca obviamente em todas as 11 faixas de Vol. 2, mas, pelo fato de o álbum ser inteiramente cantado, a maestria do ritmista acaba naturalmente eclipsada pela beleza e/ou força das vozes.

Maria Bethânia reina duplamente em Vol. 2. Intérprete sempre precisa, a artista baiana abre o disco com a récita de versos da canção Meu bom (Marcelo Costa Santos, 1987), ouvidos sobre o berimbau e o baticum afro-brasileiro percutidos por Marcelo Costa.

Na oitava faixa, Bethânia reaparece para, altiva, expor a desilusão, a mágoa e o orgulho entranhados nos versos da valsa Número um (Benedito Lacerda e Mário Lago, 1939), sucesso do cantor carioca Orlando Silva (1915 – 1978) em gravação adornada com cordas orquestradas pelo violonista Pedro Mibielli.

Sobra em Bethânia o que falta em Marisa Monte na interpretação do samba-canção Tão só (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1953): a habilidade de transmitir o sentimento da música. Em que pesem toda a beleza e elegância da voz de Marisa, nítidas na gravação, a cantora carioca jamais exprime a melancolia deste tema menos conhecido do cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 – 2008).

Já Mart'nália faz o que sabe, caindo marota no samba Psiquiatra (Zé Kétti e Elton Medeiros, 1967) e dando leveza pop à outra música pouco badalada do repertório de Vol. 2, enquanto Roberta Sá imprime bossa contemporânea em Deixei recado (João Donato e Gilberto Gil, 1975) em gravação em que Marcelo Costa se une a Alberto Continentino (baixo), Danilo Andrade (piano e trompete) e Pedro Sá (guitarra).

Se Ney Matogrosso reaviva Mulher sem razão (Bebel Gilberto, Cazuza e Dé Palmeira, 1989) com a corriqueira exuberância vocal, Jussara Silveira põe a voz cristalina em Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947) em registro turbinado com efeitos eletrônicos de João Thiré, mixados com o toque elétrico do piano de Sacha Amback e com a fricção da caixa e do bumbo percutidos por Marcelo Costa. A faixa resultou moderna.

Já Teresa Cristina pisa com propriedade no terreirão do samba portelense para destilar o desprezo que impulsiona os versos do samba Você me abandonou (Alberto Lonato, 1996), cantado por Teresa com o bamba Mauro Diniz e os vocais de Andrea Dutra, Cacala Carvalho e Elisa Queiroz.

Com canto límpido, Paula Morelenbaum encara Esse cara (Caetano Veloso, 1972) em gravação de classe, impulsionada pela pulsação larga do baixo de Guto Wirtti e bafejada pelo sopro do trompete de Jessé Sadoc.

Completando o time feminino de intérpretes do disco, Mariana de Moraes reapresenta com eficácia Se você disser que sim (1963), samba composto pelo avô da artista, Vinicius de Moraes (1913 – 1980), com Moacir Santos (1926 – 2006) e lançado há 60 anos na voz da cantora Elizeth Cardoso (1920 – 1990).

Por fim, na única incursão como cantor ao longo do álbum Vol. 2, Marcelo Costa põe a voz sem viço no samba Odete (Herivelto Martins e Valdemar de Abreu, 1944) em gravação que marca o reencontro do ritmista com o irmão Muri Costa, com quem entrou em cena há 50 anos no grupo A Barca do Sol.

Disco valorizado pelas vozes, Vol. 2 cumpre a missão de celebrar o trabalho cotidiano de Marcelo Costa com grandes nomes da música brasileira e, de quebra, deixa para a posteridade gravação antológica de Maria Bethânia, rainha desse elenco estelar, a número um de Vol. 2.


FONTE: G1 Globo


VEJA TAMBÉM
FIQUE CONECTADO