Caso Marielle: o que acontece após delação que levou a nova prisão de suspeito

25 jul 2023
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Uma ação conjunta da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) resultou na prisão de Maxwell Simões Corrêa nesta segunda-feira (24/07).

A prisão do homem, um ex-bombeiro conhecido como Suel, ocorreu após uma delação premiada de um dos investigados - Elcio Queiroz - no caso Marielle Franco.

Suel foi preso na primeira fase da operação Élpis, que tem como objetivo investigar os trágicos homicídios da vereadora Marielle e do motorista Anderson Gomes, bem como a tentativa de homicídio da assessora Fernanda Chaves.

Maxwell Simões Corrêa já tinha sido preso em 2020 sob a acusação de obstruir investigações, sendo condenado no ano seguinte. Entretanto, até a nova prisão em meio à operação Élpis, ele cumpria a pena anterior em regime aberto.

Na operação desta segunda-feira, foram cumpridos um mandado de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro (RJ) e na região metropolitana.

A operação põe novamente em evidência o peso político que o caso voltou a ganhar desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As investigações sobre o caso Marielle foram tratadas como uma das prioridades do Ministério da Justiça, comandado por Flávio Dino.

O ministro afirmou que novas informações serão divulgadas nas próximas semanas.

"Temos, hoje, a confirmação de passos dados anteriormente. Aspectos sobre os quais pairavam dúvidas estão esclarecidos, porque há convergência entre a narrativa do Elcio e outros aspectos que já estavam com a polícia. Ele narra a dinâmica, narra a participação dele e do Ronnie Lessa e aponta o Maxwell e outros como copartícipes", afirmou Dino em entrevista coletiva, onde apontou que há elementos para que a investigação chegue a um novo patamar, "a identificação dos mandantes".

O ministro acrescentou que "não restam dúvidas" quanto ao envolvimento de outras pessoas nos assassinatos de Marielle e Anderson e que as investigações têm revelado a conexão entre as milícias e o crime organizado do Rio com as mortes.

Após a operação, Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, disse em entrevista coletiva que o alvo da operação atuava na vigilância e no monitoramento de Marielle, além de ter apoiado logisticamente as pessoas apontadas como envolvidas diretamente na execução da parlamentar, Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, com intenção de acobertá-los.

"O que posso adiantar é que essa pessoa [Maxwell] participou de ações de acompanhamento e vigilância da vereadora e também do apoio logístico, com integração com os demais atores dessa cadeia criminosa percorrida. Então ele teve um papel importante nesse contexto, antes, durante e depois do caso, com a questão do carro. Para utilizar uma expressão popular, o carro foi 'picado', então houve a participação dele na ocultação desse carro", explicou Rodrigues.

Anielle Franco, irmã de Marielle e atual ministra da Igualdade Racial, disse em seu perfil do Twitter que tem confiança nas investigações.

"Falei agora por telefone com o ministro Flávio Dino e com o diretor-geral da Polícia Federal sobre as novidades do caso Marielle e Anderson. Reafirmo minha confiança na condução da investigação pela PF e repito a pergunta que faço há cinco anos: quem mandou matar Marielle e por quê?"

Os acusados

Até agora, duas pessoas foram formalmente acusadas pelos homicídios da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.

O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Elcio Queiroz foram presos preventivamente em março de 2019 e aguardam julgamento pelo Tribunal do Júri, mas a data da sessão ainda não foi agendada.

Lessa é suspeito de ter feito os disparos e Queiroz, de ter dirigido o carro usado na emboscada. Ambos negam as acusações.

Lessa foi expulso da Polícia Militar do Rio de Janeiro no início do ano por "aludidas condutas" que "caracterizam desapreço ao serviço policial", segundo um boletim interno da PM.

Além da prisão pela morte de Marielle, Lessa enfrentou em 2022 uma condenação por ocultação e comércio ilegal de armas - depois de 117 peças de fuzis terem sido apreendidas na casa de um amigo dele.

A demora em realizar o julgamento de Lessa e Queiroz foi atribuída pelo juiz Gustavo Kalil - ao negar o pedido de liberdade dos suspeitos e renovar sua prisão preventiva em setembro do ano passado - aos sucessivos recursos apresentados pela defesa.

Ao longo dos inquéritos, foram também levantadas suspeitas sobre o ex-vereador Cristiano Girão, ex-chefe de uma milícia que age na zona oeste do Rio.

Ele foi preso em julho de 2021, acusado pelo MP-RJ de ser o mandante de um duplo homicídio que teria sido executado em 2014 por Ronnie Lessa, segundo o MP-RJ. Sua defesa nega o envolvimento no crime.

Outro suspeito é Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio.

Em 2019, a Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que Brazão “arquitetou o homicídio” e o denunciou à Justiça por supostamente obstruir as investigações do caso. O processo corre em sigilo.

Girão e Brazão negam envolvimento na morte da vereadora.

Quem é Maxwell Simões Corrêa

Maxwell Simões Corrêa é ex-sargento dos bombeiros e foi preso por atrapalhar investigações e por ter contribuído para acobertar criminosos envolvidos no crime.

As investigações do MP do Rio e da PF apontam que, em 13 de março de 2019, um dia depois das prisões dos ex-policiais Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz, Maxwell teria ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito, além de objetos pessoais de Ronnie que estavam em um apartamento utilizado pelo ex-policial no bairro da Pechincha, no Rio de Janeiro.

Na época, conforme noticiado pela Agência Brasil, Simone Sibilio, promotora do MP-RJ que respondia pela investigação do caso no órgão, afirmou que Corrêa foi proprietário do carro utilizado para ocultar um arsenal de armas de Ronnie Lessa, acusado de ter efetuado os disparos.

"Ele [Maxwell Correa] responde pelo crime de obstrução da justiça. É por isso que ele foi investigado, denunciado e preso. Ele participou da ocultação de várias armas, que foram lançadas ao mar. Se a arma usada no crime estava lá, nós não sabemos afirmar. Mas o fato é que ele participou do crime de obstrução da justiça. Há várias provas no processo que está sob sigilo", afirmou Simone naquele momento.

Em 2020, Maxwell foi preso sob acusação de tentar obstruir as apurações, e em 2021, condenado.

Em nota oficial sobre a operação na época, a PF e o MP afirmaram que "a obstrução de Justiça praticada pelo denunciado, junto aos outros quatro denunciados, prejudicou de maneira considerável as investigações em curso e a ação penal".

"A arma de fogo utilizada nos crimes ainda não foi localizada em razão das condutas criminosas perpetradas pelos cinco denunciados, cabendo ressaltar que Maxwell ostentava vínculo de amizade com os acusados dos crimes e com os denunciados Josinaldo Lucas Freitas e José Márcio Mantovano", ressaltou a nota.

*Com reportagem de Rafael Barifouse


FONTE: Estado de Minas


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