Campanha de desinformação é protagonizada por pseudoespecialistas em Bangladesh

08 set 2023
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A poucos meses das eleições em Bangladesh, centenas de artigos assinados por pseudoespecialistas têm circulado na imprensa local e internacional, elogiando o governo e as relações com a China. Muitos dos autores são pessoas fictícias, segundo uma verificação da AFP.

Os artigos, em forma de colunas de opinião, foram publicados pela agência estatal chinesa Xinhua e por grandes veículos asiáticos, e citados inclusive na revista americana Foreign Policy.

"Estamos diante de uma operação coordenada de influência", afirma A. Al Mamun, professor de jornalismo na Universidade Rajshani, de Bangladesh. Segundo ele, os artigos "apoiam essencialmente narrativas favoráveis ao governo" atual.

O país asiático prevê eleições até o fim de janeiro e os esforços do Executivo da primeira-ministra Sheikh Hasina para calar a dissidência geram preocupação, especialmente em Washington.

Uma primeira série de artigos circulou na internet há um ano, quando a chancelaria elogiou os "bons cronistas" que se opuseram à "propaganda negativa".

A AFP contatou os ministérios de Relações Exteriores e de Comunicações, mas não obteve resposta. O chanceler, A.K. Abdul Momen, declarou que "não tem tempo" para fazer comentários sobre isso.

- Referências falsas -

A AFP analisou mais de 700 textos publicados em ao menos 60 sites nacionais e internacionais, assinados por 35 autores. Todos são favoráveis ao governo atual e muitos são pró-Pequim e críticos de Washington.

Além de não conseguir comprovar a existência real dos autores, os jornalistas da AFP não encontraram nenhum rastro de sua presença na internet além destes artigos. Nenhum deles tinha um perfil nas redes sociais ou publicações em revistas acadêmicas.

Ao menos 17 diziam estar vinculados a grandes universidades asiáticas ou ocidentais. A equipe de verificação digital da AFP não encontrou nenhuma pista de seus trabalhos.

Contatadas pela AFP, oito grandes universidades, entre elas, as de Delaware (Estados Unidos), Toronto (Canadá), Lucerna (Suíça) e Singapura, confirmaram que nunca ouviram falar de nove autores, supostamente vinculados às instituições.

Entre estes nome está Doreen Chowdhury, que publicou ao menos 60 textos nos quais defende a política do governo de Bangladesh, incentiva uma maior aproximação com a China e alerta para a "ameaça aos direitos humanos" representada pela violência armada nos Estados Unidos.

Porém, a fotografia de Doreen Chowdhury é na realidade de uma atriz indiana, e a Universidade de Groningen (Holanda), onde se apresenta como doutoranda, disse não conhecê-la.

- Declarações falsamente atribuídas -

Outros artigos incluem declarações atribuídas falsamente a especialistas reais.

Gerard McCarthy, professor no Instituto Internacional de Ciências Sociais da Holanda, denunciou que foram atribuídas a ele declarações "completamente inventadas" sobre Mianmar em um texto assinado por Prithwi Raj Chaturvedi.

Os editores dos jornais que publicaram estes textos afirmam ter agido de boa fé, diante das referências acadêmias apresentadas.

Nurul Kabir, redator-chefe do jornal Daily New Age, disse que recebeu muitas propostas de artigos de opinião no início do ano, mas logo deixou de publicá-los. "Deveria ter sido mais consciente da necessidade de verificar a identidade dos autores nestes tempos de desinformação e propaganda", reconhece.


FONTE: Estado de Minas


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