Acidentes expõem mazelas do transporte de carga

05 set 2023
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Acidentes envolvendo veículos de carga interditaram rodovias na Grande BH entre domingo e ontem, causando transtornos para motoristas e prejuízos para transportadoras e profissionais autônomos. Em um deles, um caminhão carregado com abóboras tombou na BR-040, na manhã de ontem, na altura do Km 571, em Nova Lima, e a carga ficou espalhada pela pista. Segundo a Via 040, concessionária que administra a rodovia, os dois sentidos da pista foram interditados, provocando um congestionamento de dois quilômetros. Por causa do óleo na pista, funcionários da concessionária precisaram jogar pó de serragem no asfalto. O trânsito só foi liberado no início da tarde. Para especialista, uma frota com idade avançada, manutenção inadequada dos veículos, jornadas excessivas e problemas nas rodovias se juntam ao excesso de velocidade e de peso das cargas, contribuindo para esse tipo de incidente e exigem intensificação da fiscalização pelos postos de pesagem.
 
A reportagem do Estado de Minas esteve ontem no local onde as abóboras se espalharam na BR-040 e apurou que não houve saque da carga, que teria como destino a cidade do Rio de Janeiro (RJ). Em outro incidente, entretanto, o destino da carga foi diferente. Na tarde de domingo (3/9), um caminhão que transportava botijões de gás de cozinha vazios tombou no Anel Rodoviário, após bater contra uma moto e um carro, em pista no sentido Rio de Janeiro, na altura do Viaduto São Francisco, Bairro Universitário, Região da Pampulha. Segundo testemunhas, os botijões de gás ficaram espalhados pela via. A Polícia Militar (PM) foi acionada já que a carga estava sendo saqueada. Um homem terminou preso. De acordo com a Polícia Militar Rodoviária, responsável pelo policiamento do trecho, órgãos ambientais foram acionados para retirar os botijões vazios, além de um caminhão reboque para fazer o destombamento da carreta.
 
Na tarde de ontem, um engavetamento na BR-381, na altura do Km 486, sentido Belo Horizonte, também complicou o trânsito. O acidente envolveu três carros e uma van. Segundo a Arteris Fernão Dias, concessionária responsável pelo trecho, a faixa da esquerda foi interditada para atendimento das vítimas, provocando um congestionamento de um quilômetro por volta das 13h30. Foi o segundo acidente no trecho no mesmo dia, já que por volta das 7h, uma batida envolvendo três veículos provocou congestionamento de dois quilômetros no sentido Belo Horizonte. A pista só foi liberada no fim da manhã.
PREJUÍZOS O diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), Alysson Coimbra, destaca alguns pontos importantes a considerar em incidentes envolvendo veículos de grande porte. “A frota dos veículos rodoviários de transporte de carga tem idade de uso avançada e, reconhecidamente, com uma falta de manutenção preventiva, com problemas de freio, por exemplo.” Ele aponta ainda o fator humano, com jornadas exaustivas dos motoristas, o que favorece acidentes. Segundo Coimbra, os motoristas são responsáveis por mais de 90% dos episódios. “Porém, não podemos atribuir tudo ao fator humano, senão isentamos gestores e administradoras de trechos de concessões de fazerem intervenções em pontos críticos, onde ocorrem mais acidentes.”
 
O especialista cita como exemplo o acidente, no sábado (2/9), na BR-277, no Paraná, que provocou engavetamento de 50 carros e a morte de cinco pessoas por causa da neblina. Para Coimbra, o local deveria ter iluminação e interrupção de tráfego segura. “Porém, quando isso envolve um veículo de grande porte, a magnitude de eventos assim é maior. Seja pelos ferimentos ou os impactos diretos e indiretos”, lembra.
PREJUÍZOS Entre os impactos indiretos, o especialista cita a interdição da pista, com obstrução do fluxo de veículos. “Com prejuízo no transporte de pacientes, trabalhadores, além das próprias cargas, que sofrerão atrasos na entrega.” Outro ponto destacado é o deslocamento de unidades de atendimento para socorrer os feridos, como ambulâncias. “Dependendo da gravidade dos ferimentos, há necessidade de deslocamento de transporte aéreo, que é mais caro.” A remoção do veículo também demanda outros custos que ficam maiores a depender da carga. “Cargas de minério, por exemplo, são mais difíceis de serem retiradas. São milhares de pessoas afetadas”, afirma.
 
Coimbra ressalta que, apesar de a carga ser coberta por seguro, há outros prejuízos para as transportadoras e os caminhoneiros autônomos. “Quando um veículo sofre acidente fica um tempo sem circular para manutenção e reparos. O trabalhador deixa de produzir. Quando é um motorista autônomo, os prejuízos são ainda maiores. Às vezes, ele roda sem seguro do veículo e, pelo alto custo de reparos, pode não ter possibilidade imediata de retomar as condições de circulação do veículo.”
EXCESSOS Além da frota, falta de manutenção preventiva e jornadas exaustivas dos motoristas, o especialista aponta os excessos de velocidade e peso como importantes. “Principalmente excesso de peso, uma vez que os postos de pesagem são insuficientes para fiscalizar a frota circulante. E para ganharem mais, os motoristas se arriscam com peso acima do nível seguro”, aponta.
 
Por isso, para ele, um caminho é intensificar a fiscalização pelos postos de pesagem, já que além de evitar acidentes contribui para a conservação da rodovia. “Veículos pesados e com excesso de peso danificam o asfalto. Precisamos discutir de maneira proporcional tudo que envolve veículos do transporte rodoviário de cargas e de passageiros. Pela lei, esses motoristas podem ter o mesmo tempo de validade na CNH e também não precisam fazer inspeções regulares do veículo. O que é difícil de entender.”
*Estagiário sob supervisão 
do editor Benny Cohen

FONTE: Estado de Minas

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