Dissidentes das Farc anunciam novas negociações de paz em maio

17 abr 2023
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Os dissidentes das Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) afirmara que estão "prontos" para escrever um novo capítulo de paz na Colômbia. Durante uma grande reunião no domingo (16), eles anunciaram o início de uma nova rodada de negociações com o governo colombiano em 16 de maio para desmobilizar cerca de 3.000 guerrilheiros que permanecem na luta armada após o histórico acordo de paz de 2016.

"Somos o exército do povo!", clamaram os insurgentes, seguindo uma tradição das antigas guerrilhas marxistas latino-americanas, em uma grande concentração "popular", durante a qual também estenderam uma trégua à guerrilha rival do ELN.

"Anunciamos ao mundo inteiro que nossos delegados estão à mesa de diálogo com o Estado colombiano, à frente do governo nacional", estão "prontos" para iniciar as negociações de paz "em 16 de maio deste ano", anunciou em um palanque a porta-voz Ángela Izquierdo, após uma reunião de comandantes dos dissidentes das Farc em San Vicente del Caguán, departamento (estado) de Caquetá (sul).

Ao seu lado, o líder da dissidência Estado Maior Central (EMC), Néstor Gregorio Vera Fernández, conhecido como "Iván Mordisco", fez outro aceno à paz minutos depois:

"Convidamos os companheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN) e pôr fim à guerra entre nossas organizações, conflito que só beneficia a classe poderosa", disse ele, diante de milhares de pessoas, camponeses, membros de organizações sociais e simpatizantes da rebelião.

Uma pequena delegação do governo estava presente, mas não fez qualquer pronunciamento.

"Mordisco" evocou a "tristeza" provocada na época pelo acordo que levou ao desarmamento do grosso das Farc, e se apresentou como defensor dos "oprimidos" e do meio ambiente.

Dado como morto no ano passado pelo governo em fim de mandato do direitista Iván Duque (2018-2022), 'Mordisco' (mordida em espanhol) sorria, usando óculos e uniforme camuflado. Do púlpito de madeira improvisado, ouviu as loas improvisadas à "luta popular" dos "guerrilheiros", "camaradas" e "guardas camponesas", cercado de milhares de pessoas.

O Estado Maior Central (EMC), liderado por Iván 'Mordisco', é o principal grupo dissidente das Farc, que se negou a assinar o histórico acordo de paz de 2016, firmado entre o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018) e esta guerrilha.

- Herdeiros -

Os dissidentes se consideram herdeiros das Farc - que durante muito tempo foi a guerrilha mais poderosa das Américas - e nos últimos meses se reorganizou com novas frentes dissidentes, que operam em várias regiões da Colômbia.

Estima-se que o grupo conte com cerca de 3.000 homens que atuam principalmente no Amazonas, na costa Pacífico e na fronteira com a Venezuela sob as ordens de 'Mordisco', um homem que atua há mais de 20 anos na organização.

No encontro na savana do Yarí, no piemonte amazônico, os dissidente responderam à proposta de negociação do presidente esquerdista Gustavo Petro, no poder desde agosto.

Com sua política de "Paz Total", Petro pretende pôr fim a mais de meio século de conflito interno, que permaneceu apesar do acordo de paz de 2016, assinado e logo rechaçado por outro grupo dissidente. Fundado em 2019 pelo líder e ex-negociador das Farc, Iván Márquez, a "Segunda Marquetalia" é inimiga do EMC e também avança em diálogos com o governo.

O ELN, por sua vez, vai retomar no fim de abril, em Cuba, um terceiro ciclo de negociações com porta-vozes de Petro.

Na véspera do Ano Novo, o governo ofereceu um cessar-fogo bilateral de seis meses aos principais grupos armados que atuam na Colômbia.

Embora a trégua tenha sido rompida com os narcotraficantes do Clã do Golfo e o ELN tenha rejeitado a suspensão das ações ofensivas, tem sido mantida até agora com os dissidentes, apesar de as partes terem denunciado ataques dos dois lados.

- Noruega -

A Colômbia, maior produtor de cocaína do mundo, vive um conflito armado no qual se enfrentam insurgentes, narcotraficantes e agentes do Estado em uma longa guerra, que fez mais de 9 milhões de vítimas.

"Somos o exército do povo (...) Não podemos deixar o povo à mercê dos paramilitares", insistiu, em declarações à AFP, um comandante do EMC conhecido como Danilo Alvizu.

O EMC havia sugerido que as negociações sejam realizadas na Noruega. "Mas esta continua sendo uma proposta", disse o comandante Alvizu, avaliando que as "condições para um diálogo estão reunidas e o momento é propício" com o "governo democrático" de Petro.

Fotos dos líderes ou dirigentes históricos do grupo marxista mortos, palavras de ordem "revolucionárias" e camponeses falecidos em nome da "luta social" foram o pano de fundo de um comício celebrado debaixo de chuva e com os pés na lama em uma fazenda remota, que remontou às cerimônias comunistas do século passado.

Até o fim da tarde, representantes de organizações sociais e camponesas subiram à tribuna para expor sua visão das futuras negociações, exigindo unicamente "paz com justiça social". Tudo, sob o olhar do EMC e de seus comandantes.


FONTE: Estado de Minas


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