Mineiro quer hub de inovação na favela e pode ganhar curso no MIT, nos EUA

05 ago 2023
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O mineiro Kennedy Vasconcelos Júnior, de 30 anos, corre contra o tempo para captar R$ 15 mil necessários à realização de um curso sobre liderança e inovação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts Institute of Technology - MIT), que é uma universidade privada de pesquisa em Cambridge, nos Estados Unidos. Caso consiga atingir o valor, ele pretende usar os conhecimentos adquiridos para criar um hub de inovação tecnológica na comunidade em que nasceu: o Bairro Santa Rita de Cássia, na periferia da Zona Leste de Juiz de Fora, na Zona da Mata de Minas Gerais. 
 
Ativista sempre envolvido em movimentos sociais em favor da população periférica e negra, Kennedy tem até a próxima quarta-feira (9/8) para captação, por meio de doações, do recurso. Caso o montante necessário para pagar a formação no MIT não seja atingido, os valores depositados via plataforma de financiamento coletivo são estornados aos doadores. Mas, se tudo der certo, Kennedy participará das aulas entre 3 de outubro e 28 de novembro. Até o fechamento desta publicação, 11% da meta haviam sido atingidos. Doações podem ser feitas por meio de Pix
 
A oportunidade no MIT teve origem em 2022, quando o ativista se candidatou em um edital da fundação paulista Tide Setubal, que selecionou, entre 382 candidatos, 71 lideranças negras no país para receber R$ 15 mil de aporte em cursos de formação profissional. O valor foi pago em 11 de março do ano passado. Após prestação de contas, o edital contemplou mais R$ 15 mil, em abril deste ano, que também só poderiam ser utilizados em atividades educacionais. Agora, a terceira etapa do edital determina a necessidade de mais R$ 15 mil para formação no MIT por meio do financiamento coletivo. Porém, a cada R$ 1 doado a Kennedy, a fundação Tide Setubal deposita mais R$ 2. 
“Quero ser ponte de oportunidades para pessoas do meu bairro e nos entornos. Ao longo dos anos, convivendo com os moradores e questionando as necessidades deles, sempre notei que havia aqui um grande problema: a falta de oportunidades e a evasão escolar, causando assim um grande índice de analfabetismo”, afirma Kennedy, que vê na tecnologia um caminho para a transformação social. “Quero usar o conhecimento adquirido no MIT para transformar a realidade na qual eu nasci e cresci. Sonho em fazer daqui um local de oportunidades”, completa. 
 

“Nossa ONG” e o projeto Programação na Quebrada

Como parte de seu ativismo, Kennedy se articulou com mais 20 pessoas para a criação da “Nossa ONG” — uma organização de atuação nacional em defesa do meio ambiente e dos direitos sociais das favelas, aldeias indígenas, povos quilombolas e ribeirinhos. As lideranças estão espalhadas — mas em constante articulação — por Minas, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Ceará, Bahia e Portugal. 
 
Nessa toada, o primeiro projeto da ONG, intitulado Programação na Quebrada, pretende atender 12 jovens da comunidade, que já faziam parte do Clube do Livro de Escritores Negros, outra iniciativa do ativista juiz-forano. “Estou mirando na construção, em um futuro próximo, de um hub de inovação, e esse curso gratuito de programação é só o início de um conjunto de atividades que pretendo desenvolver na comunidade até esse dia chegar”, conta Kennedy, destacando que a iniciativa Programação na Quebrada, em desenvolvimento há cerca de três meses, já recebeu oito computadores do projeto educacional Lotus, no município. 
 
Os moradores do Bairro Santa Rita de Cássia, Mauricio Evaristo Luciano Júnior, de 21 anos, e Kellvin Farley de Souza, de 18, estão entre os jovens que vão participar do curso de programação. Para eles, essa é uma oportunidade única. “A gente não costuma ver pessoas na comunidade fazendo isso. Não é comum. Então é importante valorizar iniciativas como essa”, comenta Mauricio. 
 
Já Kellvin, além de garantir que vai comparecer a todas as aulas quando o projeto der a largada, diz que está disponível para “ajudar no que precisarem”. O jovem, inclusive, conta que tem o sonho de viver da música. “Escrevo e canto meu rap, mas não é pensando na fama. É algo que faço por amor e me vejo trabalhando com isso no futuro. O Kennedy até já me ajudou a entrar em projetos dentro da música aqui na comunidade”, lembra. 
 
Empreendedor e programador, Mateus Costa, que conheceu Kennedy em um evento de tecnologia no segundo semestre do ano passado, em Juiz de Fora, aceitou o desafio de comandar de forma voluntária as aulas do projeto. “Vamos usar um programa chamado Scratch, que ensina a base da programação de forma interativa. O maior desafio é fazer os alunos pensarem nela como uma profissão que pode mudar suas vidas”, reflete Mateus. 
 
O Scratch, disponibilizado a partir de 2007, foi criado por um grupo de desenvolvimento tecnológico do MIT em colaboração com cientistas da Universidade da Califórnia. Trata-se de um software com uma sintaxe mais intuitiva se comparada com outras linguagens de programação. 
 

Secretária no Ceará se alia ao ativista mineiro

Com sede em Juiz de Fora, em uma pequena casa comprada com recursos próprios por Kennedy no bairro onde sempre morou, a ONG tem na vice-presidência a secretária de desenvolvimento econômico e turismo de Cascavel, no Ceará, Raquel Dias. Gestora pública há 17 anos, ela pontua que suas primeiras colocações profissionais vêm de organizações não governamentais. Ela também é diretora de educação e articulação social da plataforma Àwúre Educa, responsável pela gestão de projetos sociais para povos e comunidades tradicionais e originárias. A Àwúre é uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT) em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). 
 
“Desenrolar a sobrevivência é minha arte”, revela Raquel, que diz ainda sempre ter mirado a oportunidade de estar envolvida de alguma forma na liderança de uma ONG. “Acredito na força do terceiro setor quando se consegue despender tempo, boas ideias e dedicação. E eu enxerguei isso na Nossa ONG. Por isso me juntei ao Kennedy, que conheci em 2019, quando ele veio [em Brasília] para um evento do partido Cidadania. À época, eu já estava por lá desde 1999. Sou fundadora do núcleo interno chamado Igualdade 23, que é onde ele milita. Foi assim que nos misturamos pela primeira vez”, lembra. 
 

FONTE: Estado de Minas

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