(Re) descobrindo Juiz de Fora: a crônica de uma repórter ao lado do tio pelo Centro da cidade

31 maio 2023
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A Princesinha de Minas completa 173 anos nesta quarta-feira (31), e deles eu ainda só vivi 26 por aqui. Ao lado do meu tio, uma geração à frente da minha, eu Victória Jenz conheci histórias que agora já fazem parte da minha memória e que eu quero mantê-las vivas por muitos anos ainda. Calçadão em Juiz de Fora

Pedro Emerenciano/g1

Dos 173 anos que Juiz de Fora completa nesta quarta-feira (31), eu Victória Jenz ainda conheço apenas 26. Cheguei com as ruas já movimentadas, o Calçadão da Halfeld lotado, asfalto e concreto pelos quatro cantos...Mas um dia essa diferença de idade sumiu e eu (re) descobri a Princesinha de Minas.

Esse dia foi na verdade uma tarde de março ao lado do meu tio Érico Jenz. Enquanto descíamos pelo Centro, ele me mostrou Juiz de Fora pelos olhos dele. E como jornalista adora uma história, a conversa fluiu fácil e o caminho compartilhado foi um verdadeiro mergulho pelo passado da cidade onde nasci e vivo. Ficou tão marcado em mim, que decidi compartilhar.

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Avenida Rio Branco Parque Halfeld Calçadão

Pedro Emerenciano/g1

"Você sabia que aqui no meio tinha uma biblioteca? E que após essa escadaria - lotada de adolescentes uniformizados naquele dia, tinha um lago?"

Foi assim que eu soube como era o Parque Halfeld no passado, o coração da cidade. Coração diverso, que leva dentro todos os juiz-foranos e agregados, dos mais jovens aos velhos, dos ricos aos pobres, dos pretos aos brancos.

À esquerda, prédio que abrigou a Biblioteca Municipal no Parque Halfeld em Juiz de Fora; À direita, Parque Halfeld atualmente

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Logo depois foi a vez de descobrir mais sobre o Edifício Santa Helena — que sempre chamei de "O Prédio da Arpel", ali bem na esquina da Avenida Barão do Rio Branco com a Halfeld. A construção é de 1935 e foi considerada um monumento até que, em 1958, do outro lado da esquina, nasceu a nova versão prédio do Edifício Clube Juiz de Fora.

"Os dois prédios eram parecidos, construídos pela família Pantaleone Arcuri e por isso eram chamados de gêmeos. Até que um dia um incêndio condenou o prédio da esquerda e, agora, os cavalinhos de Portinari se fazem presentes".

À esquerda, os prédios do Edifício Clube Juiz de Fora e Santa Helena; À direita, edificações atualmente

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Logo no início do trajeto eu já me vi surpresa com as velhas memórias do meu tio, mas novas para mim, e me peguei pensando nas fases da vida, nas grandes mudanças e de como é bom saber que mesmo com o passar dos anos o passado se faz presente.

Cavalinhos ; Edifício Clube Juiz de Fora ; Portinari ; patrimônio ; Halfeld ; Fellype Alberto/g1

Fellype Alberto/g1

Enquanto descíamos o calçadão, ele me falou sobre os tipos de arquitetura da época e sobre as cafeterias que ficavam na frente do lindo Cine-Theatro Central. Consegui sentir o cheirinho do café e senti uma inveja de quem teve a sorte de sentar ali para tomar um cafézim.

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E quando chegamos na esquina do calçadão com a Batista de Oliveira, trecho que ficou conhecido nacionalmente por causa da facada em Bolsonaro, ele me contou da Boate Barril e de como dançou por ali. Da lanchonete que tinha no primeiro andar do prédio que hoje abriga feirinhas de artesanato e da absurda segregação das classes sociais.

No vídeo abaixo o meu tio contou um pouco das memórias dele:

Médico relembra momentos vividos em Juiz de Fora

Na esquina da Batista de Oliveira com a São João, um prédio cinza escuro: "Na época da 2ª guerra pintaram os prédios assim, com cores escuras e com uma espécie de brita, para que à noite os inimigos não conseguissem enxergar." Descobri que Juiz de Fora seguiu a tendência, mesmo sem a guerra ter chegado por aqui.

Enquanto seguíamos para os nossos destinos, eu rumo ao Bairro Poço Rico para buscar a filha na escola, e ele para o Granbery para uma consulta com a dentista, passamos pelo - infelizmente - destruído Palácio dos Fellet.

O imóvel foi construído no século XX por João Fellet e herdado por sua filha Olinda. Em 1993, o palacete foi vendido a uma construtora, que começou a demolir o prédio no ano seguinte.

"Olinda abria o palácio para dar aulas de pintura e desenho livre. Igual sua avó fazia lá em casa".

À esquerda, Palacete dos Fellet em 1989; À direita, edificação em 2016

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Terminamos o passeio na Espírito Santo, na linda Villa Iracema, construída em 1914 pelo arquiteto Rafael Arcuri para a Senhora Olympia Peixoto - portuguesa enriquecida residente na cidade e que deu ao imóvel o nome de Villa Olympia, inicialmente.

Dez anos depois foi alugado para o casal José Raphael e Iracema de Souza Antunes que após três meses residindo no solar optou pela compra do imóvel que, passou a ser chamado de Villa Iracema em homenagem à nova proprietária.

Curiosamente, foi a primeira residência em Juiz de Fora que tinha piscina desde a construção. Hoje, ao invés de água tem carros, já que parte dela se transformou em um estacionamento.

"A casa tá vazia, mas ainda sim dá pra enxergar a beleza dela. Pelo menos esse ainda não derrubaram".

Falei para ele que a Sofia, minha filha, acha o local lindo e sempre fala que quer morar ali. E ele me contou que minha avó Iréa Jenz tinha uma foto na varanda da casa. Infelizmente a foto se perdeu ao longo dos anos, mas a história ficará para sempre na memória.

Terminei a (re) descoberta de parte da minha Juiz de Fora com o coração quentinho. Sei que meu tio e outros juiz-foranos têm muita, mas muita história mesmo para contar da nossa cidade. Eu, com 26 anos, ainda não tenho tantas, mas espero viver várias para pode compartilhar com a minha filha lá no futuro e, quem sabe, em outro texto também.

E Juiz de Fora, nos seus 173 anos, conheci pouco de você, mas sei que ainda iremos viver boas histórias juntas. E se um dia eu me for, carrego você comigo.

A repórter Victória Jenz e o tio Érico

Arquivo Pessoal

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FONTE: G1 Globo

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