‘Assassinos da lua das flores’ só não é melhor que a grande atuação da revelação Lily Gladstone; g1 já viu

17 out 2023
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Atriz eclipsa encontro do diretor Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro, seus atores favoritos, em filme sobre relação dos EUA com povos indígenas que estreia nesta quinta (19). "Assassinos da lua dos flores" só não é melhor por não dedicar cada minuto de suas 3h30 de duração à atuação/fenômeno de Lily Gladstone, atriz que certamente vai ganhar o mundo e o Oscar como coadjuvante em 2024.

O filme que estreia nesta quinta-feira (19) em (infelizmente poucos) cinemas brasileiros é o encontro entre um dos maiores diretores vivos, Martin Scorsese, e seus atores favoritos, Robert De Niro e Leonardo DiCaprio.

Mesmo assim, quem eclipsa este grande momento é a americana de 37 anos, com um trabalho tão contido quanto poderoso, que justifica a devoção complexa do protagonista.

Sem ela, este ensaio tenso – apesar de levemente prolixo – sobre a relação de poder e de abuso que os Estados Unidos têm com os povos indígenas ainda seria um dos melhores filmes do cineasta, mas dificilmente funcionaria tão bem.

Amor nos tempos do petróleo

Baseado no livro "Assassinos da lua das flores: Petróleo, morte e a origem do FBI", de David Grann, o filme conta a história real da série de assassinatos de membros da tribo Osage nos EUA no começo do século 20.

Scorsese e seu corroteirista, Eric Roth ("Duna"), se aproveitam desse cenário de quase-pós-faroeste para contar uma história de ganância, amor e traição, enquanto olham para as origens do próprio país.

No centro dela, o casal formado pelo protagonista limitado interpretado por DiCaprio e a Osage vivida por Gladstone, herdeira de terras ricas em petróleo, e o poderoso tio do rapaz (De Niro).

Assista ao trailer de 'Assassinos da lua das flores'

O maestro Scorsese

A longuíssima duração de "Assassinos" quase melhora o monótono "O Irlandês" (2019), filme mais recente do diretor que também tinha quase os mesmos 210 minutos – basta pensar nele como um ensaio.

Ao contrário do que aconteceu há quatro anos, a nova obra não desperdiça um só segundo. Não há uma cena que sobre ou sequência que se arraste.

Scorsese nunca controlou tão bem a cadência de uma trama – com a ajuda das batidas rítmicas da última trilha de seu antigo parceiro, Robbie Robertson, que morreu em agosto, e da fotografia magistral de Rodrigo Prieto (ambos de "O Irlandês" e "O lobo de Wall Street").

3h30 até parece muito, em especial em uma época em que a maior parte do público está tão viciada nos celulares que até em sessão para a imprensa tenha quem atrapalhe os colegas para checar mensagens.

Mas, nas mãos do cineasta, cada minuto é usado a favor da tensão e da trama. Ao final, o habitual cansaço de filmes tão longos dá lugar à vontade curiosa de passar mais um tempinho com a realidade construída por ele – e, em especial, seus personagens.

Robert De Niro e Leonardo DiCaprio em cena de 'Assassinos da lua das flores'

Divulgação

Ode a Lily

Na verdade, é inevitável o desejo de passar mais um bom tempo com Molly, a personagem de Gladstone. DiCaprio e De Niro estão ótimos, claro. O segundo, aliás, talvez consiga sua melhor interpretação em um bom tempo.

É notável, então, que uma relativa desconhecida (que foi indicada como coadjuvante ao prêmio mais importante do cinema independente dos EUA em 2017 por "Certas mulheres", é verdade) se eleve tanto sobre tamanhos veteranos do primeiro escalão.

Alguém até poderia suspeitar que a construção dos personagens ajuda. O de DiCaprio, por exemplo, aparece a maior parte do tempo como um seguidor de ordens limitado, cujas ambições nunca passam das mais básicas.

Já De Niro desfruta de um vilão mais complicado, com carne suficiente para que o público realmente abocanhe suas complexidades.

Só que a atriz entrega uma Molly quieta e sutil, coberta sempre de uma aura de força e compaixão, capaz de transmitir emoções que carregam um fenômeno da natureza com um rápido e simples olhar.

Às vezes, o público precisa acreditar apenas nas palavras de um personagem quando ele diz que se apaixonou à primeira vista. Em "Assassinos", o sentimento é facilmente relacionável.

Janae Collins, Lily Gladstone, Cara Jade Myers e Jillian Dion em cena de 'Assassinos da lua das flores'

Divulgação

Quatro horas, por favor

Scorsese sabe o que tem nas mãos. Tanto que, para avançar a parte em que explora a investigação das mortes do então embrionário FBI (que nem se chamava assim na época), ele tira um pouco a personagem de cena.

A ausência que machuca um pouco o filme também dá espaço para o protagonista crescer. Era fácil entender como ele amaria a mulher, mas não suas ações, que nem sempre pareciam no melhor interesse dela.

Com o tempo, o diretor e DiCaprio o resgatam da condição de uma caricatura um pouco abobada que funciona como um instrumento nas mãos do tio e o aproximam do humano – alguém capaz dos sentimentos mais profundos e das atitudes mais contraditórias.

"Assassinos da lua das flores" é um pouco disso. Um filme muito, muito longo, mas que nunca passa a sensação de maratona.

Um olhar de escritores e cineastas brancos sobre uma realidade de povos originários que tenta respeitá-los ao retratar os abusos aos quais foram submetidos.

E o encontro entre três gigantes do cinema, que ficam até menores comparados ao tamanho de Lily Gladstone. O único defeito de "Assassinos da lua das flores" é não dedicar suas 3h30 a ela.

Mas, caso dedicasse, era capaz de alguém reclamar que não foram 4h.

Robert De Niro e Jesse Plemons o em cena de 'Assassinos da lua das flores'

Divulgação


FONTE: G1 Globo


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