‘Beatriz’, valsa de Chico Buarque e Edu Lobo, segue há 40 anos a sina de ter se tornado standard da MPB

19 nov 2023
Fique por dentro de todas as notícias pelo nosso grupo do WhatsApp!

Lançada em 1983 na trilha do balé 'O grande circo místico', na voz de Milton Nascimento, canção tem verso alterado pelo autor da letra após quatro décadas. ♪ MEMÓRIA – Em março, Chico Buarque anunciou mudança na letra de Beatriz, escrita pelo artista sobre a melodia de uma valsa criada por Edu Lobo em 1982 quando os compositores davam forma à trilha sonora do balé O grande circo místico sob encomenda do dramaturgo e diretor Naum Alves de Souza (1942 – 2016).

Chico decidiu alterar uma palavra dos versos “Será que é divina / A vida da atriz”. A palavra “vida” foi substituída por “sina” e, já na reta final da turnê do show Que tal um samba?, a cantora Mônica Salmaso passou a dar voz aos versos “Será que é divina / A sina da atriz” sempre que cantava Beatriz.

Espirituoso, Edu Lobo aprovou a mudança e brincou que a valsa demorou 40 anos para ficar pronta. Sim, Beatriz faz 40 anos de vida em 2023.

Embora composta em 1982 para a trilha sonora de espetáculo do Ballet Teatro Guaíra, a valsa foi lançada em disco em 1983 na voz divina de Milton Nascimento e, desde então, vem cumprindo a sina de se tornar um dos mais belos standards da música brasileira.

Mesmo sem nunca ter sido um hit propriamente dito, até porque nunca tocou em rádio, Beatriz é a canção mais popular do fabuloso score de O grande circo místico, balé criado com inspiração no homônimo poema escrito pelo romancista alagoano Jorge de Lima (1893 – 1953) e publicado em 1938.

Ainda que a trilha sonora do balé contenha outras obras-primas da parceria dos compositores, como Sobre todas as coisas e A história de Lily Braun, é Beatriz a música que mais vem seduzindo os intérpretes ao longo desses 40 anos.

Intérpretes que geralmente ficam embevecidos quando atentam que a sintonia entre música e letra é tão precisa que a nota mais baixa da partitura de Beatriz recai sobre a palavra chão no verso “Me ensina a não andar com os pés no chão” enquanto a nota mais alta se eleva sobre a palavra céu no verso “Se ela um dia despencar do céu”.

Para muitos ouvidos, a gravação original de Milton Nascimento – lançada em 1983 no álbum com a trilha sonora original do balé O grande circo místico – ainda paira soberana como o registro mais belo de Beatriz ao longo desses 40 anos.

Contudo, ouvintes atentos também valorizam as gravações sublimes de Cida Moreira (apresentada em 1993 no álbum em que a cantora interpreta o cancioneiro de Chico Buarque), Mônica Salmaso (no álbum de 2007 dedicado ao repertório de Chico, no disco de 2008 que juntou a cantora com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e também no registro ao vivo do show com músicas de Chico que virou DVD em 2009) e Virgínia Rodrigues (no álbum Recomeço, de 2008).

Merecem menções honrosas as abordagens de Beatriz pelas cantoras Cláudia (em disco gravado com o Zimbo Trio e lançado em 1994), Gal Costa (1945 – 2002) (no Songbook Edu Lobo, de 1995) e Zizi Possi (no álbum Puro prazer e no Songbook Chico Buarque, ambos de 1999).

Curiosamente, se o criador da melodia Edu Lobo gravou oficialmente Beatriz nada menos do que cinco vezes ao longo desses 40 anos, em discos apresentados entre 1995 e 2023, Chico Buarque – autor da letra urdida com versos imagéticos – nunca incluiu a valsa na discografia oficial do cantor.

De todo modo, o DVD documental Bastidores (2008) inclui registro de Beatriz com Chico e Edu ao fazer a retrospectiva da obra criada pelo compositor para o teatro.

Mesmo sem uma gravação formal de Chico Buarque, a valsa Beatriz segue lindamente há 40 anos a sina de ter se tornado um standard da MPB, uma das canções mais perfeitas e sedutoras da música brasileira em todos os tempos.


FONTE: G1 Globo


VEJA TAMBÉM
FIQUE CONECTADO