Billie Eilish estreia no Brasil com turnê ‘Happier than ever’, que a confirmou como a voz do novo pop

15 mar 2023
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Cantora teve show no Brasil cancelado em 2020, quando era revelação, e chega 3 anos depois, mais séria e experiente. Ela vem ao Lollapalooza em turnê do 2º álbum, que tem até bossa nova. Billie Eilish lança 'NDA' e assina videoclipe de single que integra novo álbum

Reprodução/Instagram

A estreia da Billie Eilish no Brasil estava marcada para maio de 2020, mas chega quase três anos depois. O atraso foi por conta da pandemia, claro. Mas há uma vantagem: o intervalo a levou do status de revelação para o de grande voz da nova música pop.

Ela é a atração principal do primeiro dia do Lollapalooza 2023 em São Paulo, nesta sexta-feira (24). Veja a programação completa.

Se o show fosse em 2020, os fãs brasileiros não ouviriam as músicas do “Happier than ever” (2021), segundo álbum dela. E não veria uma Billie Eilish ainda mais segura no palco.

Em 2022, ela foi headliner dos dois principais festivais do mundo: Coachella, nos EUA, e Glastonbury, na Inglaterra.

Como é a turnê atual?

Nessa turnê, ela costuma tocar o “Happier than ever” quase todo. O álbum cumpriu o desafio que botaram nas costas da Billie Eilish de ser a voz mais instigante dessa geração.

Não sem drama: a ex-"garota comum" voltou menos zoeira e mais adulta, mas ainda mordaz, movida pela força do ódio.

O disco é mais sério do que a bombástica estreia "When We All Fall Asleep, Where Do We Go?" (2019). Se antes ela revirava os olhos com a vida de adolescente e inventava histórias de terror, agora ela disseca os dramas de relações abusivas no trabalho e no amor.

A dupla com o irmão Finneas, que injetou criatividade e frescor no pop com música eletrônica produzida no quarto, segue afiada. Eles seguem expandindo os horizontes, mais confiantes, e vão do techno ("Oxytocin") à bossa nova (título autoexplicativo "Billie bossa nova").

Relembre o faixa a faixa:

"Getting Older "

Pianinho e melodia suaves enganam só quem não a conhece. É uma canção doce-ácida. Billie fala da fama do seu jeitinho cruel: "Estranhos costumam me querer mais do que ninguém já quis / Pena que são todos malucos". E fica mais pesado: "Não foi minha decisão ser abusada".

"I didn't change my number"

O álbum é um grande morde e assopra. Se o começo foi o sopro, essa começa com barulhos de cachorros ou outro animal saindo da jaula. Finneas brilha nas colagens eletrônicas. Para balancear a autoironia anterior, aqui ela morde e é direta: "Você devia ir embora antes de eu ficar muito má".

"Billie bossa nova"

Sim, é uma bossa - simplificada e levemente eletrônica. O estilo vira trilha para Billie ironizar o falso glamour da vida em turnê e o mistério de sua vida amorosa. É o tipo de música que parece uma piada que ela e Finneas levaram longe demais. Só que o resultado é o mais fraco do disco (sorry, Brasil).

Billie Eilish

Divulgação

"My future"

Segura o clima próximo da bossa, agora com piano e melodia meio jazz. Bela música, uma das que revelam uma Billie com voz mais solta do que no primeiro disco. Começa com uma melancolia reflexiva e termina com otimismo juvenil: "Estou apaixonada pelo meu futuro".

"Oxytocin"

Eletrônica pulsante tipo "Bad Guy". Mas vai além no techno. Ocitocina é um hormônio feminino associado ao prazer sexual. Billie não está mais adulta só no sofrimento, e nessa música é sensual de uma forma que não se esperaria pelo primeiro álbum.

"GOLDWING"

A música mais cabeçuda do álbum começa com um hino religioso inspirado em um poema hinduísta e musicado pelo compositor inglês Gustav Holst. Depois vira EDM esquisitona. Billie diz que "é sobre querer proteger alguém em um estado depressivo".

"Lost cause"

R&B classudo da safra das músicas criadas com a força do trauma com o ex. Tem versos destruidores, daqueles que mostram que não é bom negócio partir o coração de Billie Eilish: "You think you're such an outlaw / But you got no job" (Você se acha tão fora da lei, mas não tem emprego). Ai.

"Halley’s Comet"

Só para contrariar, essa é balada fofinha mesmo. Produção e letra evocam noites apaixonadas e sonhos. "Estou sentada no quarto do meu irmão / Não durmo há uma semana, ou duas / Acho que posso ter me apaixonado / O que eu vou fazer?". Podia ser cafona, mas tem uma intimidade tocante.

Billie Eilish

Divulgação

"Not my responsability"

Texto declamado que foi usado em shows em 2020. Billie fala sobre sua vida reclusa e sobre ser sempre alvo de julgamentos: "Se eu uso o que é confortável, não sou uma mulher / se reduzo as camadas, sou uma piranha". Resume as críticas mais idiotas sobre ela no primeiro / no segundo disco.

"Overheated"

Feita com uma batida aproveitada da faixa anterior, segundo Billie. A letra é mais doida, sem um tema óbvio, e tem trechos entre o rap e base eletrônica quebrada que lembra Radiohead - a base poderia ser algo do disco "Kid A", lançado em 2000, um ano antes do nascimento dela.

"Everybody dies"

"Todo mundo morre, surpresa, surpresa". O medo da morte e do abandono tratado desse jeito irônico é muito Billie Eilish. Outra música em que ela solta bastante a voz e não deixa a gente escutar quem reclama que Billie só sabe sussurrar.

"Your power"

Executivos de gravadora devem ter tido orgasmos ao ouvir esse violão, a coisa mais radiofônica (ou "streamofônica") que ela já fez. Mas não é pop bobinho - pelo contrário. É a letra em que ela fala mais diretamente da relação abusiva com o rapper Brandon Adams, quando ele tinha 22 e ela, 16.

"NDA"

Outra sobre as agruras da vida de celebridades. "NDA" é o famoso contrato de confidencialidade que os famosos fazem as pesoas assinarem. Começa puxada para o rap com a cara da ex-adolescente fã de Tyler the Creator e depois faz uma virada doida para uma eletrônica arrastada.

"Therefore I am"

O título cita aquela frase de René Descartes: "Penso, logo existo". A letra é carregada da repulsa que Billie exala no disco, com um vocal robótico: "Eu não quero que a imprensa coloque meu nome do lado do seu". Para compensar a citação filosófica, o clipe tem Billie zoando no shopping.

"Happier Than Ever"

Na faixa-título está o clímax. E é bom demais. Começa morna como um folk lo-fi com ukulele que resume a história de libertação de abusos e a busca pela felicidade no álbum ("Quando estou longe de você / Estou mais feliz do que nunca").

Aí explode com guitarras saturadas - que aliás, também lembram Radiohead - e rancor ("Você arruinou tudo que é bom"). Um dos dois melhores momentos de rock de 2021 para mulheres vibrarem e homens sentirem vergonha, ao lado de "Good 4 U" da Olivia Rodrigo.

"Male fantasy"

Termina como começa: balada doce-ácida. Os versos merecem citação maior pois são bons demais: "Em casa sozinha, tentando não comer, me distraindo com pornografia / Odeio o jeito que ela olha para mim / Não aguento o diálogo / Ela nunca ia estar tão satisfeita, essa é uma fantasia masculina / Vou voltar para a terapia".

Só que, depois de tanto rancor, Billie termina melancólica: "Não consigo te superar / Não importa o que eu faça / Eu sei que eu deveria, mas eu nunca poderia te odiar". Como assim, Billie? Não dá pra entender direito o finzinho, só saber que nada é óbvio no caso de Billie Eilish - ainda bem.

Finneas e Billie Eilish no Grammy 2021

Kevin Mazur / The Recording Academy / AFP


FONTE: G1 Globo


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