‘Cabeças vão rolar’, ‘me deixa de quatro no ato’ e mais: conheça as letras proibidonas de Rita Lee, censuradas pelos militares

09 maio 2023
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Doutora Norma Lima, pesquisadora da Uerj, reuniu lista de músicas que foram censuradas durante ditadura militar. Biógrafo de Rita Lee, Guilherme Samora, conseguiu documentos que alegam que Rita Lee incitou à rebelião. Documento mostra música de Rita Lee vetada

Reprodução

Rita Lee foi uma das cantoras com maior número de músicas censuradas durante a ditadura militar no Brasil. Segundo Norma Lima, doutora em literatura e professora da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), são dezenas de músicas vetadas, inclusive um disco inteiro, o "Bombom". Norma pesquisa a vida da rainha do rock brasileiro há mais de 30 anos. Rita Lee morreu na noite da última segunda-feira (8), aos 75 anos.

“Ser uma mulher livre fez com que Rita Lee fosse a mulher mais censurada da ditadura. Ela era um espírito livre e esse comportamento era um contraste com o que se esperava da mulher nos anos 60 a 80”, explica Norma.

De acordo com a pesquisadora, Rita Lee trazia críticas à moral e aos bons costumes da época, se mostrando uma mulher à frente do tempo.

De Rita, saíram letras como “Me faz de gato e sapato, e me deixa de quatro no ato” e “mulher é bicho esquisito, todo o mês sangra”, trecho questionado pela censura por fazer menção ao ciclo menstrual.

“Rita Lee foi muito rotulada e, na verdade, ela era uma pessoa que etiqueta não tinha e isso mesmo é o que incomodava”, completou a pesquisadora.

Rita Lee no lançamento do livro 'Dropz' em São Paulo, em 15 de agosto de 2017

Ale Frata/Código19/Estadão Conteúdo/Arquivo

Segundo a pesquisa de Norma Lima, não há como mensurar, mas estima-se que dezenas de músicas de Rita tenham sido alvo de censura.

Veja lista com algumas das músicas censuradas:

Barriga de mamãe

Afrodite, que se chamaria Banho de Espuma

Cor de Rosa choque

Lança Perfume

Bobagem

Papai, me empresta o carro

De leve, que cantou com Gilberto Gil

Gente fina é outra coisa

Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock n' roll

Perigosa, que cantou com As Frenéticas

x-21

Arrombou o cofre

Top Top

As duas faces de Eva

Muleque Sacana

Ditadura censurou música por ‘incitar à rebelião’

Biógrafo de Rita Lee, o jornalista Guilherme Samora teve acesso a documentos do Arquivo Nacional que mostram os argumentos usados pelos censuradores da Ditadura Militar para impedir que as músicas da cantora fossem divulgadas. Ele destaca duas músicas que foram alvo de censura: "Arrombou o cofre" e "Degustação".

Um dos arquivos obtidos alega que Rita Lee infringiu a Lei de Segurança Nacional ao citar políticos da época. Por esse motivo, os censuradores decidiram vetar “Arrombou o cofre”.

“Trata-se de composição contendo críticas de cunho político que descambam para o insulto de personalidades públicas como suas excelências os deputados Ivete Vargas, Paulo Maluf, Ministros Beltrão, Mário Andreazza e Delfin Neto, do General Golbery do Couto e Silva, do vice-presidente Aurelino Chaves e dos senhores Jânio Quadros e Solange”, diz o documento do Arquivo Nacional.

E continua:

“Nos versos finais:

‘Cabeças vão rolar, que tal a gente apostar?;

Incêndio, incêndio, incêndio!;

Pegou fogo o berço esplêndido!’

Há nítida incitação à rebelião popular, o que é vedado no parágrafo oitavo do artigo 152 da Constituição Federal, constituindo infração à Lei de Segurança Nacional”, diz o documento do Arquivo Nacional.

A música faz parte do álbum Bombom, que foi alvo dos censuradores. Segundo Guilherme Samora, o álbum censurado é “um dos discos mais lindos da Rita”.

“Proibida a rádio difusão e a execução pública das faixas ‘Arrombou o cofre’ e ‘Degustação’. Venda proibida a menores de 18 anos. Ele [o disco] vinha lacrado da loja. E a primeira leva do disco veio riscado. Tem duas músicas riscadas, as pessoas passavam gilete porque não podiam ser tocadas. Isso era a mando do governo da ditadura, através do órgão de censura. Mas, é um dos discos mais lindos da Rita”, disse Guilherme.


FONTE: G1 Globo


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