Djavan caminha com jovialidade e requinte no trilho autoral do show ‘D’

27 maio 2023
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Artista apresenta no Rio de Janeiro a turnê em que harmoniza músicas de várias épocas em roteiro que reitera a originalidade atemporal da obra do compositor. Djavan na estreia carioca do show 'D' na casa Qualistage na noite de ontem, 26 de maio

André Luis / Divulgação Qualistage

Resenha de show

Título: D

Artista: Djavan

Local: Qualistage (Rio de Janeiro, RJ)

Data: 26 de maio de 2023

Cotação: ★ ★ ★ ★

♪ Houve momento na estreia carioca do show D em que Djavan foi especialmente ovacionado pelo público que lotou a casa Qualistage na noite de ontem, 26 de maio. Foi após o artista se acompanhar ao violão na balada Meu bem querer (1980) na abertura de bloco acústico.

A vibração dos aplausos, que culminaram com grande parte da plateia de pé, deixou claro que o número tinha marcado a mais forte conexão do cantor com o público até aquele momento da apresentação.

Pela grandeza da obra, reiterada no roteiro inteiramente autoral, Djavan vem arrastando multidões pelo Brasil e pelo mundo desde que virou popstar a partir do quinto álbum, Luz (1982), disco não por acaso (bem) representado no show D com quatro das 24 músicas alinhadas nos 22 números do roteiro da estreia carioca da turnê que percorre o Brasil desde 31 de março em rota iniciada por Maceió (AL), cidade onde o artista de 74 anos nasceu em janeiro de 1949.

O cancioneiro autoral do compositor abarca músicas populares que reforçaram na apresentação carioca a conexão do artista com o público, seja pelo viés emocional de baladas como Pétala (1982), seja pela levada pop de temas como Lilás (1984). Pétala e Lilás arremataram o show, cantadas no bis.

Contudo, seria redutor enquadrar Djavan no rótulo de hitmaker. Por mais que a música do artista caia volta e meia no gosto popular, como aconteceu sobretudo nos anos 1980 e 1990, Djavan jamais lançou mão de facilidades para conquistar o sucesso. Pelo contrário.

Dono de obra original e extremamente requintada, de arquitetura complexa, o compositor sempre recusou concessões. O cantor pode até ter jogado para a galera, enfileirando os habituais sucessos dançantes – Se... (1992), Samurai (1982) e Sina (1982) – no fim do show D.

Antes, contudo, o artista ofereceu o já conhecido banquete de sons e ritmos que lhe tornaram único. “Gênio!”, gritou espectador arrebatado, em determinado momento show, após ter degustado o suingue sinuoso de músicas como Curumim (1989) e o groove de temas como Boa noite (1992).

Djavan toca violão e canta baladas como 'Meu bem querer' e 'Oceano' no bloco acústico do show 'D'

Babi Furtado / Divulgação Qualistage

De fato, revelado em 1975, Djavan é o gênio temporão da geração da década anterior que pariu Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime, Gilberto Gil e Milton Nascimento. Como Chico Buarque, de quem é parceiro em Tanta saudade (1983), salsa revivida em D com o devido tempero cubano, Djavan seguiu fiel a si mesmo, alheio às ondas de modernidade (fake ou real) que se ergueram no mar da música brasileira.

O cantor até já fez disco para as pistas e arriscou linguagem mais jovial em uma ou outra música, caso de Eu te devoro (1998), sucesso que abriu ciclo na discografia do artista e que marca presença no roteiro de D, mas continuou essencialmente o mesmo.

A prova é que, no show D, Djavan divide o palco com músicos – Felipe Alves (bateria), Jessé Sadoc (trompete, flugelhorn e vocal), João Castilho (guitarra, violão e vocal), Marcelo Martins (saxofone, flauta e vocal), Marcelo Mariano (baixo e vocal), Paulo Calasans (piano, teclados e vocal) e Renato Fonseca (teclados e vocal) – com os quais já tocou em outras turnês. Músicos que entendem a linguagem complexa da obra do compositor.

Sagaz, o artista soube diluir e harmonizar, entre hits de várias épocas, as (poucas) músicas do álbum D (2022) incluídas no roteiro do show homônimo. D, o disco, resultou em álbum déjà vu, mas ofereceu bons momentos, como Sevilhando (2022), Iluminado (2022) – grande número do show, feito na estreia carioca de D após Um amor puro (1999), balada que entrou no roteiro do Rio de Janeiro a pedido de Sofia, uma das filhas do cantor – e Primeira estrada (2022), ausência sentida no repertório do show pelos admiradores dessa requintada e poética balada.

Djavan à frente de um dos belos painéis que compõem o cenário do show 'D'

Babi Furtado / Divulgação Qualistage

Sofisticado tanto na criação de baladas como Outono (1992) quanto na feitura de sambas, Djavan fez Avião (1989) decolar em medley com Flor de lis (1976), mas sem Limão (1994), música que vinha abrindo o número ao longo da turnê do show D.

Música menos habitual nos shows de Djavan, Azul (1982) pode ter a presença no roteiro entendida como um tributo silencioso a Gal Costa (1945 – 2022), interprete original dessa e de outras composições de Djavan.

E por falar em cantoras, Djavan também reviveu Tenha calma (1989), música lançada por Maria Bethânia e interpretada pelo cantor com a habitual citação de Sem você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959), único brevíssimo momento do show D em que Djavan se permitiu dar voz a uma música alheia.

A voz estava em forma, como comprovou o contracanto em falsete feito por Djavan enquanto o público entoava os versos da balada Oceano (1989) como uma oração.

Entre hits infalíveis e músicas pouco conhecidas, caso de Desandou (1989), Djavan conduziu o show com segurança, jovialidade e o costumeiro requinte harmônico sob o belo desenho de luz de Serginho Almeida e à frente de cenário multicolorido composto por painéis criados por artistas majoritariamente negros ou indígenas.

Atemporal, a música de Djavan representa o Brasil que deu certo e D, o show, reflete o êxito de artista que triunfou por ser original.

Djavan canta 24 músicas em 22 números na estreia carioca do show 'D', na casa Qualistage

André Luís / Divulgação Qualistage

♪ Eis as 24 músicas alinhadas nos 22 números do roteiro seguido por Djavan em 26 de maio de 2023 na estreia carioca do show D na casa Qualistage, na cidade do Rio de Janeiro:

1. Curumim (1989)

2. Boa noite (1992)

3. Sevilhando (2022)

4. Eu te devoro (1998)

5. Outono (1989)

6. Cigano (1989)

7. Avião (1989) / Flor de lis (1976)

8. Num mundo de paz (2022)

9. Meu bem querer (1980)

10. Oceano (1989)

11. Um amor puro (1999)

12. Iluminado (2022)

13. Desandou (2007)

14. Tenha calma (1989) – com citação de Sem você (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959)

15. Azul (1982)

16. Luz (1982)

17. Tanta saudade (Djavan e Chico Buarque, 1983)

18. Se... (1992)

19. Samurai (1982)

20. Sina (1982)

Bis:

21. Pétala (1982)

22. Lilás (1984)


FONTE: G1 Globo


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