Imperatriz, Salgueiro, Tijuca, Tuiuti e Viradouro saem na frente no quesito samba-enredo a julgar pelo disco do Carnaval 2024

02 dez 2023
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Álbum com as gravações das 12 escolas da elite do Carnaval carioca mostra que Mangueira e Portela desvalorizam excelentes enredos com sambas medianos. Capa do disco 'Sambas de enredo 2024' do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro

Vitor Melo

Resenha de álbum

Título: Sambas de enredo 2024 – Rio Carnaval

Artistas: vários

Edição: Editora Musical Escola de Samba (Edimusa) / Gravadora Escola de Samba (Gravasamba) / ONErpm (distribuição)

Cotação: ★ ★ ★ 1/2

♪ Se a vitória do desfile do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro dependesse somente do quesito samba-enredo, a Imperatriz Leopoldinense tinha tudo para conquistar o bicampeonato em 2024 a julgar pelas gravações do disco lançado hoje, sábado, 2 de dezembro de 2023, Dia Nacional do Samba, com as apostas das 12 escolas da elite da folia carioca.

E o impressionante é que, a rigor, o samba Com a sorte virada pra lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda (Jeferson Lima, Rômulo Meirelles, Jorge Goulart, Sílvio Mesquita, Carlinhos Niterói, Bello, Gigi da Estiva, Me leva, Gabriel Coelho, Luiz Brinquinho, Miguel da Imperatriz, Antonio Crescente, Renne Barbosa e Lucas Macedo) é resultado da junção de dois sambas distintos.

A costura foi bem feita e gerou um único samba com refrão forte e fragmentos melódicos de real beleza. Obra à altura do enredo calcado em cordel de Leandro Gomes de Barros.

Contudo, há outros sambas do mesmo bom nível ao longo do álbum Sambas de Enredo 2024, gravado em outubro na sala de ensaio de orquestras da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ), com produção musical de Alceu Maia.

O Salgueiro está no páreo com Hutukara (Pedrinho da Flor, Marcelo Motta, Arlindinho Cruz, Renato Galante, Dudu Nobre, Leonardo Gallo, Ramon Via13 e Ralfe Ribeiro), ágil samba que potencializa a força do enredo político de esquerda que exalta a mitologia do povo indígena Yanomani.

Com Glória ao Almirante Negro (Cláudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W. Correia), a escola Paraíso do Tuiuti mantém inalterado o time de compositores que tem rendido prestígio à agremiação no quesito.

O enredo exalta João Cândido (1880 – 1969), militar gaúcho que, em novembro de 1910, comandou a luta para abolir a chibata e a escravidão na Marinha do Brasil, entrando para a história como o Almirante Negro, símbolo de resistência contra o racismo. A letra menciona João Bosco e Aldir Blanc (1946 –2020), autores de outro samba-exaltação do ativista, O mestre-sala dos mares (1974).

A Unidos de Viradouro também se mantém em alta no no quesito com o samba Arroboboi, Dangbé (Claudio Mattos, Cláudio Russo, Júlio Alves, Thiago Meiners, Manolo, Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno), cujo enredo é o culto ao vodum Dambê que migrou da África para o Brasil.

Também entre os destaques, a Unidos da Tijuca marca presença com O conto de fados (Júlio Alves, Cláudio Russo, Jorge Arthur, Silas Augusto, Chico Alves e D’Sousa), samba sobre a influência cultural de Portugal no Brasil.

Já Unidos de Vila Isabel é hors-concours no ranking por reeditar samba-enredo do Carnaval de 1993, Gbalá – Viagem ao templo da criação, composto por Martinho da Vila e regravado 30 anos depois com a participação do autor bamba na gravação puxada por Ito Melodia.

Alcione participa da gravação do samba-enredo 'A negra voz do amanhã', com o qual a Mangueira celebra a cantora no Carnaval de 2024

Divulgação / Edimusa

Agremiações mais antigas dentre as 12 reunidas no disco, a Mangueira e a Portela desvalorizam excelentes enredos com sambas medianos, o mesmo podendo ser dito da Beija-Flor de Nilópolis.

Buscando empatia com o público, a Estação Primeira celebrará Alcione com A negra voz do amanhã (Lequinho, Júnior Fionda, Gabriel Machado, Fadico, Guilherme Sá e Paulinho Bandolim). A artista participa da gravação do samba, que não empolga.

A Portela levantará a voz contra o racismo com o samba-enredo Um defeito de cor (Rafael Gigante, Vinicius Ferreira, Wanderley Monteiro, Jefferson Oliveira, Hélio Porto, Bira e André do Posto 7), baseado no referencial e homônimo livro da escritora Ana Maria Gonçalves.

Já a Beija-Flor reviverá Ras Gonguila – nome da realeza etíope com que se apresentava Benedito dos Santos (1905 – 1968), lendário folião de Alagoas que marcou época nos Carnavais da capital do estado a partir dos anos 1930 – com o samba Um delírio de Carnaval na Maceió de Ras Gonguila (Kirraizinho, Lucas Gringo, Wilsinho Paz, Venir Vieira, Marquinhos Beija-Flor, Dr. Rogério, Chacal do Sax, Ramon Quintanilha e Naldinho). O enredo da agremiação fluminense é patrocinado pela Prefeitura de Maceió, mas o viés da homenagem à cidade é criativo.

Acadêmicos do Grande Rio, Mocidade Independente de Padre Miguel e Porto da Pedra também apresentam sambas medianos. Mas pode ser que os respectivos sambas Nosso destino é ser onça (Derê, Marcelinho Júnior, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro, Tony Vietinã e Eduardo Queiroz), Pede caju que dou… Pé de caju que dá! (Diego Nicolau, Paulinho Mocidade, Marcelo Adnet, Richard Valença, Orlando Ambrosio, Gigi da Estiva, Lico Monteiro, Cabeça do Ajax, Márcio de Deus e W. Corrêa) e Lunário Perpétuo – A profética do saber popular (Guga Martins, Passos Júnior, Gustavo Clarão, Lucas Macedo, Leandro Gaúcho, Clairton Fonseca, Richard Valença, Gigi da Estiva, Abílio Jr, Marquinho Paloma, Cristiano Teles e Ailson Picanço) cresçam na avenida e virem o jogo.

Porque é na avenida que se define para valer o quesito samba-enredo, ainda que o disco do Carnaval carioca sempre sinalize quais as escolas que têm mais chances de tirar as notas máximas.


FONTE: G1 Globo


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