‘Priscilla’ mostra relação agitada entre Elvis e sua esposa pela visão original de Sofia Coppola; g1 já viu

24 out 2023
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Filme que encerra o Festival do Rio é inspirado em livro co-escrito pela ex-mulher do Rei do Rock. Cailee Spaeny, que interpreta a protagonista, ganhou prêmio no Festival de Veneza. "Priscilla", o filme mais recente da diretora e roteirista Sofia Coppola (de "Encontros e Desencontros"), dá destaque à vida de Priscilla Presley e sua conturbada relação com Elvis.

Com isso, se mostra um bom contraponto em relação a "Elvis" (2022), de Baz Luhrmann, criticado por dar pouco espaço e atenção à ex-mulher que teve fundamental importância na vida e na carreira do cantor.

Inspirada no livro "Elvis e Eu", escrito pela própria Priscilla Presley ao lado de Sandra Harmon e lançado em 1985, a produção encerrou o Festival do Rio 2023 ao lado do brasileiro "O Sequestro do Voo 375" e deve ser lançada em dezembro.

Assista ao trailer do filme "Priscilla"

O livro detalha como o casal se conheceu, viveu junto por muitos anos e os motivos que levaram à separação. Com seu estilo peculiar de contar histórias, Sofia Coppola se dedica a mostrar o processo que levou ao desgaste do relacionamento entre Priscilla e Elvis, com um olhar mais sensível às questões da personagem-título.

Em comparação a "Elvis", o filme de Coppola é menos espalhafatoso e mais intimista. Mais preocupado em desenvolver melhor o casal principal, proporciona uma experiência interessante e controversa, o que pode não agradar a todos os gostos. Mas quem embarcar na proposta de Coppola certamente se sentirá recompensado.

A trama começa na Alemanha de 1959, quando Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny, da série "Mare of Easttown"), que vivia numa base militar americana, é convidada para uma festa comandada por Elvis Presley (Jacob Elordi, da série "Euphoria").

A jovem, de 14 anos na época, vive uma história de amor à primeira vista com o ídolo. Anos depois, ela consegue a permissão da família para viver com o cantor em Graceland, sua propriedade em Memphis.

Aos poucos, ela se vê cada vez mais solitária em casa, por causa dos inúmeros compromissos do marido com shows e filmagens, além de ter que aguentar o peso de ser a esposa do Rei do Rock.

Com as imposições de Elvis de como se comportar ou de se vestir, Priscilla percebe que está perdendo a identidade para se moldar à vontade do marido.

Pequena grande atriz

A ótima atuação de Spaeny é o grande destaque de "Priscilla". A atriz convence tanto na fase em que a personagem tem apenas 14 anos quanto na época em que já estava mais adulta.

Cailee Spaeny interpreta Priscilla Presley no filme "Priscilla"

Divulgação

Sua performance é tão hipnótica que ela é responsável por boa parte do interesse que pode causar no público, mesmo para aqueles que podem ter ressalvas com outros elementos do filme. Não foi por acaso que ela ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza de 2023 e não seria surpresa se ela fosse lembrada em outras grandes premiações.

Já Elordi, embora não se pareça fisicamente em nada com o cantor e não supere o ótimo trabalho de Austin Butler em "Elvis", compensa com bons trabalhos vocal e gestual.

Ele também se sai bem para mostrar os contrastes entre o homem carinhoso do início e o agressivo com sua esposa, mesmo com uma fala mansa. O restante do elenco é eficiente, mas não se sobressai.

Bibelô do Rei

O que chama a atenção em "Priscilla" é a maneira que Coppola resolve contar a trajetória da protagonista durante o relacionamento. A cineasta, também autora do roteiro, enfatiza o processo de como Priscilla passa por uma adolescente apaixonada e completamente submissa à vontade de Elvis a uma mulher que começa a perceber que pode ser mais do que um simples enfeite na vida do marido.

Desde o início da relação, Elvis se mostra controlador e possessivo, dizendo a Priscilla como ele gostaria que ela fosse em todos os aspectos, seja no tipo de penteado ou quais cores devem ser as roupas que ela deve usar, colocando-a numa espécie de redoma.

Elvis Presley (Jacob Elordi) e Priscilla (Cailee Spaeny) numa cena do filme 'Priscilla'

Divulgação

Além disso, o filme enfatiza o fato de que, como esposa de Elvis, ela teria que viver sempre esperando por sua volta como se fosse uma donzela presa num castelo, aguardando o seu Rei chegar de alguma batalha.

A diretora cria sequências em que Priscilla se "monta" com roupas e maquiagem para sempre aparecer impecável para os outros, mesmo que não estivesse completamente de acordo com isso.

A protagonista tem ainda que lidar com as intrigas e fofocas que evidenciam o jeito mulherengo de Elvis, já que, por muito tempo, ele tinha que se mostrar disponível para suas fãs, mesmo estando casado.

Dessa maneira, Coppola enfatiza que, embora vivesse com muito luxo e conforto, Priscilla estava em uma espécie de prisão, onde as imposições do marido e de seu modo de vida acabassem por deixá-la sozinha e vulnerável.

Esse é um aspecto interessante do filme que faz com que o espectador se compadeça da situação da protagonista e torça para que ela consiga se impor e sair dessa armadilha sentimental.

Já o final apressado pula de uma história para outra sem uma conclusão mais satisfatória. Uma pena. Talvez mais alguns minutos de duração e uma edição mais apurada não fizessem mal para concluir a sua história.

Jacob Elordi interpreta Elvis Presley no filme 'Priscilla', de Sofia Coppola

Divulgação

No entanto, o filme tem alguns pecados, em especial em relação a seu ritmo. Há momentos bem impactantes no longa, mas também há sequências em que poucas coisas acontecem, o que pode deixar alguns espectadores incomodados com a lentidão das cenas.

Trilha sonora diferenciada

Para fazer "Priscilla", Coppola contou com problema inesperado: seu pedido para utilizar as músicas de Elvis foi negado pelos responsáveis que cuidam dos direitos autorais das canções. Por causa disso, pequenos trechos de músicas como "Love me Tender" são ouvidos como trilha incidental.

Para compensar o fato de que não poderia usar canções completas do cantor, a diretora usou músicas de outros grupos, como Ramones, com "Baby I Love You" (que abre o filme), e cantores como Frankie Avalon e Dolly Parton para compor a trilha sonora. Outras canções ainda ficaram a cargo do grupo Phoenix, do qual Thomas Mars, marido da cineasta, é vocalista.

Cailee Spaeny levou o prêmio de Melhor Atriz do Festival de Veneza por seu trabalho em 'Priscilla'

Divulgação

O recurso dá um certo charme ao filme e lembra um pouco o que Coppola já tinha feito em "Maria Antonieta" (2006), um filme de época com canções modernas.

O resultado é bem criativo e interessante e se torna um dos grandes trunfos da produção, o que comprova a criatividade e a esperteza de Coppola em se livrar de complicações que surgiram em seu caminho.

Além da trilha, outros elementos bem trabalhados no filme são a direção de arte e figurinos. Eles conseguem reconstituir bem a época em que Elvis e Priscilla viveram juntos e enchem a tela com tamanhos bom gosto e beleza, que certamente vão alegrar os que curtem coisas ligadas à moda daquele período.

Cena de 'Priscilla', filme dirigido por Sofia Coppola

Divulgação

Assim como em outros filmes dirigidos por Coppola, como "As virgens suicidas" e "O estranho que nós amamos", "Priscilla" busca discutir o universo feminino com sensibilidade.

Desta vez, a cineasta utiliza um ícone americano para mostrar que certos contos de fadas podem parecer muito bons e criar belas imagens na superfície, mas que, ao olhar mais de perto, há diversas rachaduras que mostram que o "felizes para sempre" não passa de uma simples ilusão.

O príncipe encantado pode ser o verdadeiro vilão da história se não souber como tratar bem a sua princesa. Como aconteceu com Elvis e Priscilla.


FONTE: G1 Globo


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